CONTO SOBRE  UMA  VIDA... A MINHA
 
Aos 70 anos que agora em 2021 são 78... eu improvisei um conto sobre uma vida, a minha. Inspirado em  “Coisas da Vida”. Eu me considero uma coisa da vida, apesar de eu ser “humano”, mas a vida me demonstrou nessa vivência de 78 anos,  ser eu, uma coisa da vida. É isso, ou mais ou menos isso que eu sou ou que me tornei. Se eu não pensasse eu seria um animal, não sei se seria melhor, ou não – Acho que melhor. Cheguei a pensar em não pensar e somente viver, talvez assim eu não visse o lado mal que muitos humanos estão seguindo, mas também não veria as maravilhas que estão espalhadas pelo mundo, e são elas que me comovem o que me dão sustentação de viver e as vejo com olhos mais abertos, e com mais fixação, e se eu olhasse somente para este lado: que lindo seria o mundo. Mas quando dou uma espiada no lado ruim, isso me aborrece. Mas dando início de um conto sobre uma vida, a minha e que reflete uma trajetória, de um grande caminho percorrido em todas essas décadas, eu poderia iniciar de alguma forma – talvez dessa forma.
 
 Depois de ter nascido, e começado o meu desbravamento do pouco do mundo que eu começava a conhecer e às vezes achava que ele o mundo não era tão grande assim e eu pensava que aquele pedaço, era o mundo como um todo, mas naquele pedaço que eu conhecia, quando brincava de me esconder, de pegar e de fazer as minhas artes numa vida de criança que iniciou as suas andanças, morando “para fora”, cercado de mato, e que eu conhecia cada galho das arvores em volta da nossa casa numa vida de criança bem merecida e bem vivida, numa época em que eu me lembro, quando aparecia um carro, era para mim como se fosse uma tipo de monstro mecânico, mas acabei me acostumando,  e vendo que o mundo não era só de carroças. Eu era feliz em morar “para fora”
 
  Depois de ganhar mais alguns anos Fui para uma cidade maior, e já tinha me desacostumado com as carroças e ganhado mais intimidades com os automóveis.
 
  Escondia-me no meu quarto, das meninas que queriam me namorar, e depois eu ficava correndo atrás das meninas que se escondiam de mim e que eu queria namorar. Já amei, mas teve algumas  pessoas que eu amava, nunca ficou sabendo, mas já fui amado, por pessoas que fiquei sabendo mais tarde. Já amei, sem saber o que era amor, já gostei, e deixei de gostar, ou às vezes me enganava. Já gostaram de mim, e também deixaram de gostar. Já fui decepcionado e também decepcionei. Afinal o que é gostar o que é o amor, talvez a gente nunca fique sabendo, ou às vezes sabe, e às vezes pensa que sabe, mas eu fiquei sabendo quando encontrei a minha esposa porque é com ela que eu estou por mais de 30 anos e continuo querendo estar – e acho que estar, é o amor ou algo maior do que isso e se não é - para mim é - e cada um faz no seu amor a sua fórmula. Eu fiz a minha.
 
. Eu sempre tive medo do escuro, da noite e a noite me perturbava, e muitas vezes dormindo e com medo eu chamava a minha mãe, e quando ela não aparecia, no meu sonho o meu pesadelo se tornava, mais assombrador - Mas continuo até hoje com esses terríveis pesadelos - São coisas da mente, que me persegue e que eu convivo, tenho que conviver.
 
Quando jovem tive as minhas vaidades, pois tem um período que a gente quer ser o mais bonito, e eu ficava olhando com atenção no espelho. Fiz até uma plástica no nariz e depois a desfiz, sim a desfiz, pois até a vaidade vai algum dia, embora e hoje, eu continuo me vendo no espelho, mas é para apreciar como é bom ter as marcas e o orgulho da senilidade.
 
 Lesionei-me lutando, mas já fiquei doente por ficar, depois melhorei, porque não tive a doença mais terrível que é estar de mal consigo mesmo e sempre queria ficar bom, e ficava.  Permanecia às vezes  sentado sozinho olhando, as coisas e às vezes olhando para o infinito sem enxergar nada, pensando quem eu era e o que era o mundo, onde eu estava.  E saia sem descobrir, mas chegava à conclusão de que eu estava vivo e deveria continuar vivendo, pois sentia que o sentido da vida era viver – nada mais do que viver. Saber o que é viver a gente descobre com o tempo.
 
Já usei de mentiras, e me arrependi, mas teve vezes que eu mentia para alegrar alguém, mas já ouvi mentiras e fingia que acreditava, para não magoar alguém - aquele que mentiu.
 
 Tive os meus anos de estudo, mas resolvi parar, pois sempre eu estava pensando em coisas que eu queria fazer enquanto estudava, se fiz bem, não sei, mas fiz, e também fiz muitas outras coisas. Toquei acordeão, e outros instrumentos, não queria ser músico, já que eu não fui dotado por esta vocação, mas apenas queria tocar, e toquei.  Mas foi o namoro mais apaixonante, foi com a flauta pelo seu som que sempre me cativou e ela  me acompanha e toco as minhas canções para manter a vida no seu ritmo e com harmonia, e ela, a vida, precisa.
 
 Já chorei sem razões, mas já chorei por que tinha razão. Mas ri bem mais do que chorei, pois a vida para mim, sempre sorriu, e eu não poderia decepcioná-la. Muitas vezes deixei de reclamar, coisas que eu supunha que estavam erradas, mas já reclamei de coisas sem razões. Concordei sem ter que concordar, para agradar os outros, mas não a mim. Participei sem querer participar, também para agradar alguém. Falei coisas com o intuito de magoar, mas quem ficou magoado fui eu.
 Já calei quando eu deveria me pronunciar e gritar alto para que todos ouvissem. Já contei piadas sem graça, por não saber contar, mas as pessoas riram sem achar graça, para me agradar. Descobri que alguém gostava de mim.
 
 Sonhei demais, já tive sonhos materiais realizados, mas eles não me realizaram como pessoa. Apenas compraram coisa, que me deu mais ilusões.  Mas hoje sonho naquilo que me dá prazer, como pessoa, sonhos tangíveis, mais humanos que transforma utopia em realidade - como é a minha vida desfrutada num centro naturista, com meus amigos.
 
 Andei de forma bípede, mas também de bicicleta, de lambreta, de bonde e de carro. O que mais me atraiu foram as motocicletas, e com elas risquei muitos caminhos por mais de 40 anos, de forma ordeira e sortudo, sem marcas no corpo, e a s únicas marcas que tenho foram das quilometragens percorridas em busca do rumo da humanidade ou busca de algo que encontrei ou ainda continuo a procurar.  As estradas eram tão belas que ao usufruí-las eu não dava tanta importância para o destino, mas eu tinha um destino e dúvidas onde eu deveria dobrar, ou seguir em frente. Mas ia, de vagar, sem pressa, e parava quando tinha que parar, para depois quando partir, sentir o ronco do motor, e a alegria de seguir, e deixar para traz os caminhos, marcados pelos desenhos dos pneus, e pela saudade do que ficou.   
 
.  Já cai muitas vezes, tanto como lutador, de moto ou na vida, achando que às vezes eu não iria me levantar, mas era só um momento, depois sempre me reerguia, e achava que não cairia mais, mas foi um engano. A gente sempre cai.
 
 Sempre procurei ser amigo, mas às vezes ficava na dúvida se o meu amigo merecia, mas hoje com o passar dos anos, eu acredito muito nas amizades, e sou amigo dos meus amigos, mas não me façam acreditar em coisas que eu não acredito e não me convidem para ser igual, ou gostar das mesmas coisas que vocês gostam, pois sou um ser humano e sou diferente de vocês, que também são diferentes de mim.  Gosto de coisas que outros não gostam, mas gosto de vocês meus amigos como são e não pelo que têm, portanto goste de mim como eu sou pelo que tenho e o que não tenho.  Não gosto de mentiras, nem das minhas. Sou o que sou, mas não serei o mesmo para sempre. Se acostumem com as minhas mutações, e que elas sejam para melhor.
 
Trabalhei para ganhar dinheiro, o dinheiro era bom, pois no começo, ganhar bem, achamos que é importante, e até era, mas o trabalho não era. Não gostei e me demiti para lutar em outras paragens, e descobri que o importante era o que o meu trabalho poderia me tornar. Descobri a felicidade, com um novo trabalho que eu escolhi, e não fui escolhido por ele ou por aconselhamento e percorri com meu novo trabalho por caminhos durante trinta e cinco anos, compartilhando a minha amizade com um pseudônimo chamado de Scaramouche, que era o meu outro eu.  E foi ele o meu outro eu que me aconselhou a trabalhar como técnico esportivo, ministrando aulas de lutas onde me realizei mais uma vez, pois era um lazer, transformado em profissão. Não chegou a ser um trabalho.  
 
Eu compartilhei a minha antiga amizade do Scaramouche, pelo meu segundo  eu que era um escultor onde ele pode mostrar a transformação de algo em outro algo. Chamado de escultura. Descobri de uma forma anímica, uma espécie de flor latente, que iniciou sua manifestação quando eu ainda era uma criança e que ficava amassando e olhando as transformações do barro de olaria em algo que eu tentava adivinhar a sua forma realmente abstrata por natureza e feita por uma criança que ainda não sabia o que era algo abstrato, mas acho que tinham formas de  animais, pois eu convivia com eles.  Mas logo depois esta flor que antes não era latente, era o início, e se escondeu, por um longo tempo, porque assim a vida quis, e seu eu quero a vida, devo segui-la, da forma que ela se apresenta.
 
 Depois de todas as conquistas como atleta e de prêmios merecidos e de derrotas também merecidas, que marcaram épocas que ficarão na história que de alguma forma para quem viram ou souberam, mas que com o tempo essas mesmas pessoas assim como eu, se despedirão do mundo, e ficará somente a história acrescentando mais história, e finalmente virarão lendas.

 
  Se eu não tivesse existido, as minhas histórias também não teriam existido, pois cada pessoa pertence a sua história, e é ligada a ela.     
 
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 25/09/2021
Reeditado em 29/09/2021
Código do texto: T7350376
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