MEU REMÉDIO
MEU REMÉDIO
Nelson Marzullo Tangerini
Depois de uma nova e profunda pesquisa sobre o legendário Café Paris, de Niterói, RJ, e seus poetas, eis que encontro mais um soneto do piracicabano Nestor Tangerini, publicado com o pseudônimo Pastaciuta, no jornal O Almofadinha, Ano XV, Reinado de Momo, no. 5, p. 3, em 11, 12 e 13 de fevereiro de 1934, e que trago novamente à luz:
“MEU REMÉDIO
Triste, sentindo, num pesar profundo,
os meus apertos, sorte “desigual”,
a quem eu devo procurar no mundo,
capaz de aliviar este meu mal?
A quem, que, ao ver-me assim meditabundo,
consiga, com remédio divinal
fazer-me alegre ao menos um segundo?
A um médico? A um doutor? Nem penso em tal.
Pois para me curar desta doença,
para livrar-me desta mágoa imensa,
em que tu – sorte avessa – me conservas,
só desejo encontrar um curandeiro,
que me cure da falta de dinheiro,
piedosamente me passando as ‘ervas’ “.
Em 1934, Nestor Tangerini já não morava mais em Niterói; morava em Ipanema, mas ainda mantinha contato com os velhos amigos da Roda Literária do Café Paris, demolido no início dos anos 1940, após um incêndio de grandes proporções. Em seu lugar, seria construída a Avenida Amaral Peixoto, via principal do centro da antiga capital fluminense.
É a partir de 1930 que o nome de Nestor Tangerini vem a crescer como autor teatral e fazer parte da história do Teatro de Revista.
Por suas peças passaram grandes atores como Oscarito, Dercy Gonçalves, Grande Otelo, Humberto Catalano, Dinorah Marzullo, entre outros.
Após o fim do Café Paris, portanto, seus poetas, entre eles o inseparável amigo Luiz Leitão, um dos maiores sonetistas satíricos da língua portuguesa, figura principal da Roda na década de 1920, foram cantar em outra freguesia. Um grupo, porém, formou o Cenáculo Fluminense de História e Letras e, posteriormente, a Academia Fluminense de Letras, que mantém, ainda, em plena década de 2021, a sua velha chama acessa, abrigando os grande nomes da literatura do Estado do Rio de Janeiro.
Quanto ao soneto “Meu remédio”, este texto será incluído numa segunda edição do livro "Humoradas", de Nestor Tangerini.