CAFÉ PARIS, NITERÓI, ANOS 1920

MAIS DOIS POETAS REFLETINDO SOBRE A MORTE

Nelson Marzullo Tangerini

Em crônica anterior a esta, comentei a visão de dois poetas, Cruz e Sousa, Simbolista, e Nestor Tangerini, Pós-Parnasianismo, sobre a proximidade da morte.

Trago, aqui, nesta crônica, um soneto de Mazzini Rubano, o poeta mais novo da Roda Literária do Café Paris, movimento que nasceu e floresceu na cidade de Niterói, RJ, nos anos 1920 - e que teve, entre os jovens intelectuais, os poetas Luiz Leitão, Nestor Tangerini, Olavo Bastos, Mayrink, Apollo Martins, Gomes Filho e Renê Descartes de Madeiros.

Mazzini, também um Pós-Parnasiano, como os demais “parisienses”, já foi citado em crônica minha, publicada no livro “Nestor Tangerini e o Café Paris”, Editora Nitpress, Niterói, RJ, 2010, quando destaquei seu belo soneto “A mulher e o pecado”. Niteroiense, o poeta faleceu ainda jovem, depois de uma grave enfermidade, deixando alguns sonetos dispersos em jornais e revistas, mas expressivos para o Pós-Parnasianismo fluminense.

Aqui, o jovem Mazzini, ciente de sua breve existência, descreve sobre seu drama pessoal e a calmaria do cemitério, que o acolherá:

“CEMITÉRIO

Contemplando de perto esta cidade,

Onde a vida para na eterna calma,

Tive um momento de pavor, minh´alma

Tremeu diante da fatalidade.

Senti, nesse pavor que ainda me invade,

Quando o silêncio sobre mim se espalma,

O grito da ambição, que não se acalma,

Estrangulado pela realidade.

Cai no abismo do aniquilamento:

A força fria do esmorecimento

Escravizara as minhas energias!

E vi passar a Morte soberana,

Carregando o estandarte do Nirvana

Na procissão das lápides sombrias!”

Mais conhecido que Mazzini Rubano, Augusto dos Anjos descreve, também, sobre o mesmo tema, a morte, a decomposição do corpo humano, embora o poeta seja de uma outra escola, o Pré-Modernismo, que recebeu, dentro dessa designação, criada por críticos literários, os escritores Lima Barreto e Euclydes da Cunha.

Publicamos, então, nesta crônica, um soneto de Augusto dos Anjos, “Psicologia de um vencido”, do livro Eu, a título de comparação, apenas, e para pôr em evidência este outro poeta, Mazzini Rubano, nome de rua em São Paulo, Capital, merecedor, também, de um lugar na História da Literatura brasileira:

“PSICOLOGIA DE UM VENCIDO

Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênese da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondráco,

Este ambiente me causa repugnância.

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardáco.

Já o verme – este operário das ruínas -

Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há-de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialidade inorgânica da terra!"

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu a 20 de abril de 1884 no Engenho Pau D´Arco, Vila do Espirito Santos, atual município de Sapé, na Paraíba, e faleceu em Leopoldina, MG, a 12 de novembro de 1914.

Augusto dos Anjos deixou uma legião de fãs espalhados por todo o Brasil. E é bem provável que Mazzini Rubano tenha sido um deles.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 23/09/2021
Reeditado em 24/09/2021
Código do texto: T7349075
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