O Uniforme Escolar
Na vida de um estudante o uniforme é uma peça fundamental. Para as famílias, é uma forma de economizar no guarda-roupa dos filhos. Nas escolas, o uniforme além de identificar os alunos, desenvolve a socialização e o conceito de igualdade.
Quando entrei para a escola pública, aos seis anos de idade, o uniforme era um avental branco com o nome do aluno bordado em vermelho. Eu o achava bem bonito. Lembro-me de que um dia minha mãe e eu estávamos sentadas em um lotação ( ônibus), a caminho da escola, quando um homem ficou de pé junto ao nosso banco. Minha mãe estava triste mas atraente, toda de preto. Notei que ele ficava olhando para ela o tempo todo. Depois leu o meu nome no avental e começou a puxar papo. Aquilo foi me incomodando de tal jeito que, de repente, eu disse em alto e bom som: “Esse homem está pensando que o meu pai morreu, mas quem morreu foi meu avô!” O sujeito ficou tão sem graça que foi saindo de fininho até sumir das nossas vistas.
Durante o antigo primário ( Fundamental 1 ), vivi uma espécie de lua de mel com meu uniforme: saia plissada azul, blusa branca, meias brancas e sapatos pretos. No entanto, tudo mudou quando passei para o ginásio ( Fundamental 2 ).
O Colégio Estadual André Maurois era todo cimentado e ficava no Leblon. Naquela época o bairro não tinha os prédios altos que tem hoje, então, o vento frio varria os pátios gelados. Como nós meninas não tínhamos permissão para usar calça comprida, ficávamos morrendo de frio no inverno. Eu lembro que minha mãe fez uma japona ( agasalho feito de feltro azul escuro e forrado com flanela) bem quentinha, mas nossas pernas não tinham proteção e ficavam arrepiadas. Na época gostávamos de soprar o ar pela boca para ver o vapor saindo. E no recreio, pulávamos corda e elástico para nos aquecer.
À medida que fui crescendo e meu corpo foi mudando, comecei a ser alvo de piadas por conta da minha saia. As duas pregas, tanto na frente quanto nas costas, não favoreciam as meninas de quadril largo como eu. Muitas alunas conseguiram contornar o problema, convencendo as mães a costurarem as pregas, fazendo com que as saias ficassem retas, juntas ao corpo. Bem que eu tentei explicar a situação para minha mãe, mas para ela uniforme era uma coisa sagrada e ponto final. E foi então que eu ganhei o apelido de “Beth-Saia-Balão”. Mal sabia eu que o nome dado àquela chacota seria conhecido hoje como bullying.
Passei anos odiando aquela saia até que um belo dia a nossa diretora, Henriette Amado, resolveu liberar calças sociais para as alunas. Aquilo foi um gesto de coragem em plena ditadura militar! Eu fui uma das primeiras a mudar o meu “look” e foi LI-BER-TA-DOR! Não falo só por mim que era vítima de bullying há anos. A decisão de Henriette foi importante porque, pela primeira vez, nós mulheres tínhamos a oportunidade de escolher o nosso uniforme. Para nós, alunas do André Maurois, aquele foi o primeiro passo na busca pelo empoderamento feminino.