I CENTENÁRIO DE PAULO FREIRE: PERDEMOS UMA OPORTUNIDADE ÍMPAR
Nunca imaginei que um dia teria algo a agradecer ao capitão Presidente.
Claudio Chaves
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PAULO FREIRE, sua história e sua contribuição para o Brasil são, de fato, singulares – isso é indiscutível.
EVIDENTEMENTE, num país de origem e mentalidade profundamente colonialistas e escravocratas como é o Brasil – e não me refiro apenas aos ricos, mas à nação em geral –, uma proposta de educação que ensina para a autonomia e não que adestra para a submissão, que forma a partir do senso crítico e não através do senso comum, que inspira indignação e não conformação, enfim, uma educação que oferece ao aluno asas e não grilhões, enquanto esse espírito [colonialista-escravocrata) não for superado, jamais será aceita pela maioria.
OS OPRIMIDOS não se apropriam – pelo menos como e o quanto deveriam – do pensamento freireano porque, em regra, não o entendem. Os opressores, ao contrário, o temem, exatamente porque o entendem muito bem e sabem o poder revolucionador contido em tais ideias.
ISSO, no entanto, em nada altera a relevância do, até o presente, mais influente pensador da Educação brasileira, nosso filósofo mais celebrado, mais estudado e mais reconhecido no mundo – a ponto de ter sido convidado como palestrante em todos os continentes, receber dezenas de títulos de Doutor Honoris Causa, ser homenageado com estátua pública no primeiro mundo e ter uma de suas obras (Pedagogia do Oprimido) como a 3ª mais citada em pesquisas acadêmicas na área de Humanas no mundo.
NO ANO do primeiro centenário de seu natalício, no entanto – mesmo quando a Educação é uma das áreas mais desprezadas e os professores um dos, senão o principal, alvos de ataques levianos, e todo tipo de detratação do governo central do País e seus apoiadores –, as organizações classistas (sindicatos de educadores, movimentos estudantis, coletivos de educação popular...) não conseguem aglutinar forças para mobilizar nacionalmente a sociedade (como sempre esperou Freire que a apropriação de suas ideias proporcionasse) em torno da ressurreição da Educação Pública e da restauração da imagem e da dignidade dos professores, ambas em estágio praticamente de coma [induzido], como tem sido a situação, desesperada e literalmente, de milhares de brasileiros nesses sombrios tempos de pandemia.
PERDEMOS uma oportunidade ímpar.
NÃO fosse pelos histéricos e sistemáticos ataques do Presidente da República e sua claque de fanáticos devotos contra o Educador, seu nome e sua obra certamente não teriam ganhado a projeção que tiveram nesse último triênio.
EU NUNCA imaginei que, em sã consciência, um dia teria algo a agradecer ao capitão Presidente. Mas, de fato, nesse particular, sua contribuição, embora absolutamente involuntária, só o tempo dirá quão relevante está sendo!
COM profundo desapontamento, reconheço que a revisitação da obra de Freire por grande parte do mundo acadêmico e as [ainda] parcas manifestações entre as massas a respeito de seu legado como teórico da Educação se devem mais pelos arroubos de estupidez, preconceito e aparofobia do Presidente do que pela apropriação consciente e espontânea de sua imensa obra por parte dos educadores, embora a absoluta maioria emerjam exatamente das classes subaternizadas, especial objeto de sua Pedagogia.
MAS se é verdade que “Deus escreve certo por linhas tortas”, não é de todo mal que o nosso maior ideólogo tenha seu reconhecimento impulsionado mais por iniciativa de quem o despreza de que por aqueles que dizem reverenciá-lo.