Uma saudade... e que saudade!

Depois de um longo dia de trabalho, me sento para tomar aquele café preto feito na água de chá de canela e me deleitar em algumas lembranças, que são fortemente reforçadas com o som da chuva e do vento. Ah! As lembranças! Nossa vida, nosso dia, nossos momentos são feitos de lembranças. Boas ou ruins, lembranças! E essa chuva temperada com um vento frio que deixa o corpo trêmulo, a mente saudosa de infância e de adolescência.

A infância de brincadeiras de rua que não tinham hora para acabar. Durante o dia, bolinha de gude (aqui a gente chamava de peteca), uma pelada (futebol de rua), papagaio (empinar pipa), taco ball (tacos de madeira e latas de óleo), pé de lata e outras mais que a memória já esqueceu. Mas as minhas preferidas eram aquelas da noite. A gente jantava cedo para depois se reunir e brincar na rua até tarde, às vezes pegava uma surra do pai. Geralmente eram brincadeiras de muita ação, de correr, de gritar e jogar as emoções para fora, pois havia aquelas que eram disputadas em equipes. Esconde-esconde, rouba bandeira, rouba sandália, "bom barquinho, bom barquinho deixarás passar, carregado de filhinhos pra Jesus criar, três, três passará, o derradeiro é de ficar, se não for o bem da frente, pode ser o bem de trás...", jacarandá (mestre mandou), bola queimada (queimado) e tantas outras. Ah! Era pura diversão.

Então, eu mergulho na adolescência, na qual as brincadeiras continuam, porém com outros elementos e comportamentos que marcaram de um jeito tão bom. Aí vem aquele período que começam os namoricos, com alguém da rua ou mesmo da escola. Mas o que me marcou mesmo, foram os “namoros” virtuais. Sim! Eu também conheci pessoas por esses meios eletrônicos, embora fossem diferentes desses de hoje. Algumas dessas pessoas se tornaram tão amigas que até hoje nos falamos.

Minha saudade hoje é mesmo das ligações, das cartas, dos cartões de natal (aerogramas) que hoje dificilmente alguém manda, até mesmo das fotos (todo mundo vestido, diga-se) que mandávamos para os amigos. As ligações?? Muitos preferem esperar cair e responder pelo aplicativo de mensagem a atender uma chamada. Às vezes nem respondemos as mensagens. Ninguém é obrigado a responder mesmo! Como ficamos tão frios e tão distantes?

Perdi as contas de quantas vezes eu ia correndo para o orelhão com meu cartão telefônico para ligar ou receber uma ligação. Sem falar que ainda fazíamos coleções com esses cartões. Momentos mágicos de imaginação, visto que só tínhamos a voz um do outro até o dia que se trocava uma foto pelo correio. Reafirmo que nas fotos todo mundo estava vestido.

Depois dessa euforia de orelhão, eu me lembro dos primeiros celulares. Do SMS, que a gente para digitar o “c” tinha de apertar três vezes no número 2. Dava um trabalhoooooo, mas era gostoso. E com isso, vieram o MSN, Flogão, Orkut... quem se lembra?? E tudo isso ficava restrito a um computador pessoal ou mesmo da Lan house, essa já quase nem existe mais, porque depois todo mundo se juntava para conversar e dar muitas gargalhadas, talvez para falar de coisas tristes também.

Parece que isso tudo aconteceu ontem. A evolução da tecnologia está acontecendo de uma forma tão rápida, que assusta de alguma forma. Será que estamos ou seremos refém de tudo isso? O que dizer dos celulares, aliás dos tão falados e usados smartphones com suas redes sociais? De social não tem nada quando nos juntamos para conversar uns com outros em uma mesa e acabamos por falar com quem está do outro lado da tela, não é mesmo?

Diego Rasalas
Enviado por Diego Rasalas em 21/09/2021
Reeditado em 23/09/2021
Código do texto: T7347722
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