Areia da ampulheta
Meu antigo carro
Minha antiga casa
A antiga rua pela qual sempre passava
A velha nostalgia que nunca falta
Aquela falta que sempre falta
A rua molhada
O cheiro da chuva
A caminhada apressada
A chuva que cai
inevitavelmente te molha
Mais um dia passando
Mais alguns grãos de areia que escorre pela ampulheta
Ou uma gota que cai pela conta gotas que é a vida
Aí a gente se dá conta
Do que realmente importa
Não é as coisas do trabalho que você só faz para ganhar dinheiro e comprar as coisas que você acha que precisa comprar
Não é o material, o tangível
Mais do que isso,
É invisível
É o abraço
A mão que você segura
O cheiro do lençol
O vento que entra pela janela
O café
E tantas outras coisas que lhe trazem paz
Mas que não te cabem mais
Não lhe serve mais
Como aquela sua velha camisa, que você gostava tanto.
Ela ainda te serve, ela ainda fica bem em você.
No entanto, você não se sente mais bem com ela.
Aí você pensa: “nossa gostava tanto dessa camisa”
E é assim
Você faz coisas que dizia que não iria fazer
Como fumar um cigarro
Passar noite em claro
E mais uma vez se arrepender
E errar
E aprender
E errar de novo
Como um ciclo sem fim
E ainda vai morrer e dizer:
- havia tanto amor dentro de mim