NOSSO LIMITE
 
Quando chegamos ao ano de 1993, eu completei os meus 50 e poucos anos de idade. Nesta época estava em moda à prática do Roller, e minhas filhas quase adolescentes, queriam porque queriam os tais de Roller, para acompanhar a moda e melhor se integrar com as suas amigas.
 
 Eu peguei então minhas filhas e fomos comprar os tais Roller. Experimentaram um e outro e mais outro e optaram pelos seus modelos preferidos e já estavam preparadas para levá-los e experimentá-los na rua: hei, esperem, eu também quero comprar um par para mim, e se tua mãe quiser volto e compra outro para ela, mas ela não quis. Mas pai tu vai andar de Roller aos 50 anos: vou sim, pois se vocês vão aprender, eu posso aprender também. Sabem que vai sair junto com vocês para cuidá-las: vai ser eu. Que legal o pai vai também andar de Roller.
 
Aprendi junto com as minhas filhas, caindo, levantando, mas claro que as elas aprenderam bem mais rápido. Mas em seguida, estávamos nos três dando shows pelas ruas. Era uma sensação muito agradável, alem do exercício físico, era quase como esquiar pelo asfalto.
 
Mas a moda durou pouco, e as minhas filhas, são pela moda, e quando esta terminou, elas também terminaram com as suas andanças, para não ficarem fora de moda.  Eu já sou mais pelo que me dá prazer, se gostei da brincadeira, eu vou continuar, pois a moda não tem vez comigo, e segui sempre praticando e fazendo as minhas manobras, no começo mais radicais, mas depois sem muito radicalismo. Era eu sozinho com meus Roller nos pés desfilando pelas ruas e assombrando os mais idosos e até os mais novos, pela minha ousadia, considerando a minha idade.  Eu sempre pensava comigo, vou andar de Roller até complementar os meus 70 anos.
 
No dia 21 de Agosto de 2011, eu já tinha completado meus 68 anos, e era um dia muito lindo, com um sol radiante, próprio para andar no meu Roller e desfrutar aquela beleza de dia oferecida pela natureza.
 
 Coloquei a minha cadeira próxima ao portão da garagem. Sentei, Vesti, os meus protetores de pulsos e os ajustei bem, coloquei o meu capacete, que não era próprio para Roller, mas sim para motociclista, mas esta ele ali como um protetor da cabeça. Calcei o Roller no pé esquerdo, e notei que ele estava com uma fivela quebrada. Mas eles eram mesmo velhos, e com uma fivela quebrada, ainda dava para usar.
 
Depois calcei o Roller no pé direito, e este estava com todas as fivelas inteiras. Andei uma quadra, depois duas e estava me preparando para andar pelos 10 quarteirões como eu sempre fazia. Então quando eu tinha dado um bom impulso pela reta do asfalto, senti dois estalos e vi que tinham  arrebentados duas fivelas do Roller do pé direito, fazendo com que o meu pé ficasse dançando, me colocando em perigo, mas consegui parar a máquina, sem beijar o asfalto.
 
Acho que foi um aviso para eu encerrar antes dos 70 anos a minha ousadia, pois não valeria a pena comprar outro Roller para andar o tempo que eu tinha prometido para mim mesmo, então pensei: A gente vai até o nosso limite, e acho que em Roller o meu limite chegou.
 
 Para confirmar, levei o Roller e mostrei para a minha esposa, com as fivelas arrebentadas e lhe perguntei, será que esse é sinal para eu parar: tenho certeza que é o sinal para que tu encerres esta atividade, e para mim será um grande alívio, saber que tu não vais mais te submeter aos perigos normais do Roller e considerando também a tua idade de 68 anos. Pode para sim.
 

E foi o que eu fiz. Assim eu me despeço dos meus velhos Roller, que andei até deixar os seus pedaços pelo asfalto, e sem lesões depois de andar mais de 15 anos. Ficou a saudade, e a lembrança do meu tempo em que eu era um guri de 68 anos que andava de Roller. Mas fiquei sabendo que tem gente com idade mais avançada e que ainda andam de roller, eu também podia continuar, mas fui pela intuição, e pelo fato do roller ter se entregado antes de mim, resolvi parar.
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 21/09/2021
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