COMECEI A CHORAR
 
Estamos em Agosto de 2011. Sempre tivemos uma vida cheia de bons acontecimentos e rodeados de harmonia.  Até falávamos a respeito da nossa felicidade, e sempre ficamos gratos pela nossa ótima convivência em família. As duas filhas agora estão casadas, e eu a minha esposa Iara é que compartilhamos a nossa espaçosa casa.
 
Mas a vida às vezes nos apresenta algumas provas para testar a nossa capacidade de administrar nossos sentimentos com relação a doenças.
 
Nos meus relatos eu tenho que mencionar também os episódios não bons mesmo que a gente torce para que não aconteçam.  Após termos voltados da nossa cabana em Taquara, a minha esposa Iara, começou a falar coisas sem nexo, mas que tudo o que ela falava apesar não ter lógica, anunciava que tinha um motivo e uma simbologia e uma explicação.
 
Ao entrarmos em casa ela se abraçou em mim, me beijou e disse-me que me amava muito, foi uma das poucas frases que ela falou que continha coerência, então eu lhe retribui aquela dedicação de amor, e COMECEI A CHORAR abraçado e ela que também começou a chorar. São momentos de tristeza que começaram do nada.  Chorei por ver que a minha esposa naquele momento estava precisando de ajuda médica e da minha ajuda, e do meu companheirismo.  Respirei fundo e pensei: nas promessas do casamento quando a gente promete amar um ao outro na vida, na doença e na morte.  Parecia pouco os nossos 30 anos de uma vida cheia de vida, e eu enfrentando uma doença apesar de não ser grave no nosso casamento tão duradouro.
 
Então liguei para as minhas filhas e genros que vieram logo, para juntos nós planejarmos o atendimento que ela necessitasse. Foi atendida e  diagnosticado um surto psicótico, talvez ocasionado por algum efeito colateral de medicamento, ou algum trauma do passado.
 
 A Iara ficou uns quatro dias com a crise onde nós da família, a mantivemos numa vigilância constante. Estava eu a minha filha Nailê e o marido dela, todos cuidando da Iara. De repente ela foi para o computador, e nós ficamos na sala, em poucos minutos, ela desapareceu do computador. Olhamos e vimos suas chaves na mesa, sua carteira com documentos, achamos que a Iara estaria em casa, mas nada de encontrá-la. Procuramos pelos dois pisos da casa, em baixo das camas, armários, por todo o pátio, e chegamos à conclusão de que ela havia saído para a rua, mas para onde, e no estado confuso dela, muitos carros andando pelo centro, onde moramos. Bateu em nós um grande susto e um medo se sermos responsáveis se alguma ruim coisa acontecesse com ela.  A minha filha e o seu marido saíram de carro pela cidade e não a encontraram. Minha sogra também saiu a pé sem êxito. Quando a minha filha estava se preparando para a nova busca, finalmente a Iara apareceu, com uma manta preta, que dizia ser da sua avó.  Saiu andando e se encontrava na casa de uma amiga, tomando café, que lhe emprestou a manta e depois nos ligou para saber se ela tinha chegado à sua casa.
 
 O médico que consultamos receitou um remédio específico, que leva algum tempo para surtir o efeito, mas que conseguiu fazer com que o quadro se revertesse, para a alacridade de toda a família. Pois é Iara parece que vencemos mais esta. E ficamos muito felizes em vela como tu és, e não com parecia ser, e não gostamos da tua outra forma de ser.
 
 Nós lhe perguntamos se ela lembrava do que havia falado quando acometida do surto. Ela respondeu que sim, lembrava de tudo, mas na sua concepção ela acreditava nas suas fantasias, como se fosse uma realidade
 
Da mesma forma tudo o que mexe com a nossa mente, acaba se tornando também engraçado. No dia em que o estado da Iara estava muito preocupante, a mãe dela pediu para levá-la para casa que iria cuidá-la com todo o carinho. Coisa de mãe.
 
 Pior fui eu que tive que dormir sozinho, e com aquele medo de infância, que ainda não me abandonou. Deixei várias luzes acesas, e quando fui dormir, pensei: tomara que não me de um daqueles pesadelos, que vem me atormentando, desde o meu AVC. Dormindo com a Iara, ela me acordava quando eu tinha os pesadelos. Só me faltava ter um pesadelo quando eu estiver dormindo sozinho, e não deu outra: eu ali sozinho, naquela casa enorme, comecei a ter o pesadelo. Estava deitado e queria falar, mas não podia, queria me mexer também não podia, ou seja, era um sofrimento até eu me acordar, e quando isso aconteceu, passou a agonia e fiquei mais calmo. Que noite tenebrosa.
 
Nesta noite a Iara estava dormindo na casa da sua mãe, mas durante a noite acordou, e começou a aprontar:  - e ela mesma que diz - Eu achava que estava com uma gravidez psicológica do meu marido, e queria abortar, porque meu marido não gostava mais de mim. Eu aprendi uma manobra abortiva no curso técnico de enfermagem que estou fazendo, e tentei aplicar.
 
Com as duas mãos pegava a perna abaixo da panturrilha e puxava para cima, depois troquei a minha calcinha que atirei pela janela, por a calcinha da minha mãe que seria mais folgada e iria facilitar o aborto e seguida coloquei um pano entre as pernas para conter o sangramento do aborto, mesmo achando que era psicológico.  Depois peguei a bolsa de água quente para aquecer meus pés e joguei pela janela como se fosse à bolsa rompendo.
 
Logo a seguir pequei uma garrafa de álcool e outra mistura para fazer infusão e - Joguei pela janela - pois pensei no meu pai que poderia ter morrido, e foi um gesto para salvá-lo - Logo peguei um rosário da minha mãe e retirei as continhas, e mais um livro sobre depressão e joguei tudo  a onde: pela janela -  Peguei um livro sobre religião e o que fiz: - joguei também pela janela, para libertar a minha família do meio religioso. - Peguei um travesseiro onde troquei a fronha e deixei pendurado na grade da janela, pois isso significaria que era mudança de endereço -Após eu atirei uma bolinha, também pela janela para acordar o cachorro a fim de chamar a atenção de alguém - depois peguei a foto da avó materna e a beijei, para dizer-lhe que eu não tinha rancor da minha tia (filha da avó). Ou seja, fiz uma grande bagunça na casa da minha mãe, o que deve tê-la deixada horrorizada.
 
 No dia anterior eu seria buscado às 19 horas pelo meu marido que havia casado comigo em outra encarnação, e para mim arrumou uma amante que iria me fazer muito feliz, citando um nome que viu em meus e-mails.  
Cada estória que a Iara. Atualmente em 2021 a Iara formada em técnica de enfermagem, esta preste a se formar em psicologia. 
 

 
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 21/09/2021
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