O “sono dogmático” na política pode ser contagiante
Foi Kant, um filósofo alemão do século 18, que afirmou que quando não somos capaz de fazer crítica à nossa própria “razão” tornamos prisioneiro de um “sono dogmático” que nos leva ao erro acerca do conhecimento de qualquer “realidade”. Este filósofo sabia que o conhecimento, a razão de ser das coisas que existe no mundo, não é possível de ser conhecida de forma tão direta e objetiva. O que sabemos do mundo, segundo Kant, é sempre uma “representação do mundo”. Sendo assim, a relação entre o sujeito do conhecimento (nós seres humanos que queremos conhecer) e os objetos do conhecimento (as coisas ou os fenômenos que existe em nosso mundo) só são possíveis de serem conhecidos através de um raciocínio seletivo ou “filtro cognitivo”. Ou seja, o mundo é representação porque não olhamos para o mundo de forma direta (de maneira nua e crua), mas sim a partir de uma espécie de “óculos cognitivo” (envolve as ideias e as experiências de quem olha) que nos faz enxergar e compreender as coisas do mundo. Portanto, toda vez que olhamos para algo que existe no mundo, olhamos com este “óculos invisível” que carregamos dentro de nós e, é isso, que irá formar aquilo que chamamos de “realidade do mundo”. O mundo é representação porque a “realidade” é uma "representação" e vice-versa. Mas, o que esta problemática acerca do conhecimento tem a ver com a política? Ora, se existe “uma realidade política”, portanto, esta realidade também não deixa de ser uma “representação do mundo” daquele que está olhando para ela. No mundo de hoje, o sujeito da política perdeu esta capacidade de olhar a “realidade política” com este princípio do “filtro cognitivo” proposto pelo filósofo Kant. Certos grupos políticos (da direita ou da esquerda) parecem querer compreender a “realidade política” sem os filtros dos “óculos cognitivo”. A direita parece estar muito mais afetada com este retrocesso cognitivo. Estes grupos acreditam que acessam “a realidade política” de forma direta (de maneira nua e crua) sem os “filtros ideológicos”. O bolsonarismo raiz extremista, por exemplo, está léguas de distância de compreender a “realidade política” a partir destes pressupostos filosóficos. O irracionalismo, a falência cognitiva, lança o bolsonarismo raiz não ao “sono dogmático” da razão, mas para a pura estupidez, tolice e canalhice política. As “bolhas políticas” das rede sociais através das “fake news políticas” bolsonarista destruiu qualquer possibilidade de um debate que envolva inteligência política com este grupo. A falência cognitiva do bolsonarismo lançou o pais ao “pesadelo dogmático” não da razão, mas do irracionalismo político suicida que estamos assistindo no cenário nacional. Talvez a única lição que se possa tirar de proveito desta tragédia política bolsonarista atual, é que a sensatez política, o racionalismo, deve prevalecer sempre tanto à direita quanto à esquerda na política brasileira. Que não se deixe o “sono dogmático” destruir a razão política neste país.