"Querência amada"
É muito estranho não ver os gaúchos na avenida, nem os cavalos, nem as prendas, até isto nos foi tirado. Em outros anos, o parque estaria cheio espelhado no Guaíba, o ar impregnado pelo cheiro do churrasco, os piquetes com suas danças e a arte campeira, para manterem vivas as nossas tradições. Pelo Parque Harmonia, sempre o sonido de um violão, de um acordeon, um fogo de chão para esquentar as chaleiras, hoje, meio silencioso, acabrunhado. Nossos festejos podem parecer provincianos (e o são, por sorte, é preciso manter acesa a chama), mas temos orgulho da nossa terra, da nossa gente solitária, nos que defenderam nossas fronteiras, motivo fluente da nossa união. Vivemos no fim do mundo, campo, água e mar, sempre penso assim, vivemos no “Sul” do mundo”. Nossa história é meio confusa, mas já está sendo reescrita com mais fidelidade e justiça. Nos orgulhamos dos que construíram a nossa Nação gaúcha, negros, índios e brancos, dos que defenderam o Rio Grande, de quem herdamos a cultura e tradições, cantamos nosso Hino, todos, desde cedo.
Hoje os gaúchos estão menos alegres, há menos música, menos fumaça, menos cavalos, mas pulsa em nós um grande coração verde, amarelo e vermelho, cores da nossa bandeira. “Rio Grande do Sul, dos pagos que não têm fim, por maior que tu sejas Rio Grande, caberás sempre dentro de mim...” (“Hino ao Rio Grande”, Paixão Côrtes, historiador e folclorista).