Do "CASTIÇO" e das PENAS
Num bar tradicionalmente frequentado pela classe média mais abonada de uma cidade interiorana, onde rotineiramente todos se embebedavam e não se incomodavam com as bravatas um dos outros, certa noite, numa mesa discreta bem num recanto do salão, encontrava-se um turista campeão de fisiculturismo que degustava de pratos exóticos e bebida cara ao lado da belíssima namorada. Ela também era uma reconhecida atleta, pois dominava técnicas de MMA (sigla, em inglês, de: artes marciais mistas).
A certa hora, um frequentador antigo, achando que iria poder contar com a indiferença de sempre, nem precisou de muitas doses para exibir seu costumeiro “show” que sempre era gravado em vídeo para publicação em rede social no grupo dos machões. Como era hábito, levantou-se arregaçando as mangas compridas da camisa e gritou:
— “Aqui não tem homem que tope sair no braço comigo. Conforme eu vou passando aqui no meio das mesas, quem achar que é homem suficiente para sair no braço comigo, é só levantar e me acompanhar até lá fora... e, aí, a gente se resolve”.
Como era de se esperar, apenas o casal de atletas ficou incomodado por não conhecer a rotina dali. Porém, pela insistência do desafio que era repetido pelo bagunceiro e parecendo que os funcionários do restaurante estavam intimidados, foi a moça quem achou melhor tomar uma atitude porque sabia que o namorado era calmo demais.
E, sem que o bagunceiro esperasse, foi se levantando aquele “mulherão” (claramente com estatura “pra mais de metro-e-oitenta de altura”), justamente saindo de uma mesa onde o casal não havia sido percebido antes. E, aí, já não dava para evitar que alguém visitante tivesse se ofendido.
Ficando de frente para o folgado e se inclinando, para ficar na altura dele, a moça ameaçou:
— “Não precisa meu namorado, pra quebrar você no meio. Peça desculpas a ele, senão vou te fazer engolir os insultos e ainda te levo à delegacia desta cidadezinha”.
Após alguns segundos o folgado já reluzia ao brilho das lâmpadas, de tanto suor repentino. Mas, o infeliz tinha presença de espírito e num piscar de olhos arrancou a camisa social de dentro das calças e deu um nó nas pontas da mesma.
O bagunceiro então falou outra vez gritando para todos ouvirem, mas desta vez com uma voz estranhamente suave e fazendo beicinho no intervalo das palavras ao mesmo tempo em que posicionava as costas de uma das mãos na cintura. Naquele momento, ele até parecia sorrir com os olhos.
— “Queridaaa...! Não sabia que você era tão ciumenta! Não se pode nem parabenizar o teu namorado, pois todo mundo aqui já entendeu meu recado para ele... já que ele jamais sairia ‘no abraço’ comigo, tendo ao lado um ‘mundão de mulher’ como você... que até me deixa complexada...! O elogio era mais de inveja que senti de você, amada! Vai! Volta para os braços dele!”
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Sim, o sujeito escapou de apanhar. Mas, não teve mais sossego com os amigos quando resolvia beber naquele mesmo local. Muitos até "se revelaram" para ele.
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Da série: “Numa surra, o gênero é neutro”