Setembro Amarelo - Arrependimento ou Remorso?

Sou natural de uma pequena cidade situada no extremo sul da Palestina, mais exatamente bem ao sul do território de Judá, já na divisa do Reino dos Nabateus cuja capital chama-se Petra. Os nabateus se notabilizaram pelo domínio da Rota do Incenso com a cobrança de impostos e pedágio sobre o transporte e distribuição de perfumaria em toda a região dos filisteus chegando ao Mar Mediterrâneo pelos portos de Gaza, Asquelom e Asdode.

De certa maneira, isso contribuiu para que o envolvimento na distribuição de riquezas que passavam próximas ao nosso território, capacitasse indivíduos do nosso pequeno povoado conhecido por Queriote-Hezrom na arte da negociação, e eu sou um deles.

Embora esta não seja uma confissão, no sentido da palavra, reconheço que na minha cabeça tudo ou, quase tudo gira em torno do lucro pessoal. Desde pequeno fui ensinado e obriguei-me a aprender que, na arte da negociação só é bem-sucedido o indivíduo que consegue levar vantagem sobre os demais concorrentes e que, para atingir este fim, pouco importam os valores morais ou o respeito pelas tradições e pelas pessoas.

Foi exatamente por isso que eu deixei a minha região e me desloquei para a Galiléia a fim de me encontrar com um tal galileu de quem se dizia estar se preparando para estabelecer o novo reino de Israel e assumir o comando político da nossa terra ocupada pelo Império Romano.

Às vezes eu pensava comigo mesmo: "O que eu teria a ganhar, se eu me unisse ao Galileu nas suas intenções de restituir o reino a Israel?" E quanto mais eu pensava sobre isso, mais vontade eu tinha de me dar bem com todos, inclusive com aqueles que viviam mais próximos do Nazareno.

Criei, intencionalmente, algumas situações para me aproximar do Galileu iniciando por acompanhar a pequena multidão que orbitava ao seu redor. Do meio da multidão, detectei quais eram os indivíduos que estavam sempre próximos dele e passei a me aproximar ainda mais deles. Um deles, em especial, me chamou a atenção. Chamava-se André e parecia ser o "relações públicas" do pequeno grupo. Fiquei mais próximo a ele com a intenção de ser observado pelo líder e qual não foi a minha surpresa quando, numa determinada manhã, depois de passar uma noite inteira em oração, o Mestre chamou pelo nome um pequeno grupo de seguidores e o meu nome constava da lista dos que foram chamados e reconhecidos como discípulos. Éramos ao todo, doze pessoas!

Caminhei com o grupo durante meses. Peregrinamos pelas estradas poeirentas da Judeia, da Samaria e da Galileia durante quase três anos seguidos e, confesso aqui, nunca presenciei tantos milagres e sinais espantosos como nunca antes havia visto na minha vida, a não ser durante aquele período. Cheguei a ser escolhido para servir como tesoureiro do grupo, talvez pelo reconhecimento da minha facilidade para lidar com números e com dinheiro. Por consequência, carregava comigo as economias de todos e as contribuições que as pessoas faziam em favor do ministério daquele Jesus de Nazaré.

No entanto, após vários meses, comecei a ficar frustrado. E a gota d'água se deu quando ouvi do próprio Mestre a declaração: "O meu reino não é deste mundo!"

Ora, pensei comigo mesmo, se eu não tinha nada a ganhar neste mundo seguindo esse tal de Jesus, o que é que eu estava fazendo da minha vida? Afinal, quando deixei o sul da Judeia para me encontrar com esse Messias de Israel, eu estava pensando em lucro, em dinheiro, em posses e riquezas.

Foi aí que eu decidi, também intencionalmente, perseguir o meu objetivo original, ou seja, lucrar de alguma forma com aquele envolvimento aparente.

Deixei isso bastante claro quando, na casa de um tal Simão onde nos reuníramos para uma refeição, uma das mulheres da casa quebrou sobre Jesus um vaso de alabastro e derramou sobre ele um perfume caríssimo que eu costumava ver transportado na Rota do Incenso. Fiquei indignado com aquilo e disse para que todos ao meu redor ouvissem: "Que desperdício! Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres?"

Já pensaram nisso? Tinha ou não tinha razão para ficar indignado? Aquele valor seria equivalente a quase um ano de trabalho pago a um trabalhador. E tudo aquilo ficaria sob a minha guarda. Mas ninguém ouviu a minha consideração racional. Parecia até que ninguém, ninguém mesmo queria ficar rico!

Decidi que já havia perdido tempo demais com aquelas pessoas e resolvi lucrar de alguma forma com tudo aquilo.

Procurei as autoridades dos judeus, pois sabia que eles desejavam a morte de Jesus, mas não tinham oportunidade de prendê-lo e vendi a liberdade de Jesus por trinta moedas de prata para entregá-lo em ocasião e local determinados. Não era muito dinheiro, mas daria para voltar para a minha terra e adquirir uma pequena fazenda. Eu sabia que isto seria considerado uma traição, e de fato era, mas também, significaria para mim o lucro por ter perdido tanto tempo com uma ilusão que não se concretizou.

Dois dias antes da Páscoa, cumpri a minha parte no trato e entreguei Jesus aos soldados que o prenderam, aos magistrados que o julgaram e aos romanos que o crucificaram, tudo com a aprovação do Sinédrio, dos sacerdotes em geral, de Pôncio Pilatos que lavou as próprias mãos como para se livrar da culpa de ter condenado uma pessoa inocente, e da multidão que se reuniu em Jerusalém naquele dia.

Somente eu não fiquei em paz. Minha consciência estava me condenando e eu sabia que jamais sentiria paz na alma. Fui aos sacerdotes para devolver-lhes o dinheiro e, nem isso eles quiseram aceitar de volta. Joguei as trinta moedas de prata ao chão e me retirei do templo. O remorso, mas não o arrependimento tomou conta de mim e, em desespero, ao invés de me arrepender diante de Deus pelo que houvera feito, procurei um lugar solitário para tirar a própria vida.

Assim terminou a vida de Judas Iscariotes ou, para usar o toponímio, assim terminou a vida de Judas, o homem de Queriote. Ele se suicidou!

Meu amigo.

Hoje é o último domingo do Inverno de 2021 e estamos em meio a um projeto de vida identificado por Setembro Amarelo cujo objetivo é a prevenção do suicídio que assola a sociedade, principalmente nestes tempos de pandemia por causa da COVID 19.

Calcula-se que o índice de suicídio no Brasil e nas Américas cresceu em até 7% desde o surgimento da pandemia da COVID 19 atingindo incidentalmente a juventude por causa dos altos níveis de depressão, uso de drogas e entorpecentes e, pasmem, o uso intencional de pesticidas utilizados na agricultura. No mundo, a cada 40 segundos ocorre um suicídio, segundo as notificações; e ainda, segundo as mesmas notificações oficiais, no Brasil a cada 46 minutos uma pessoa tira a própria vida.

Não permita que a tristeza, a dor e o frio do grande inverno que invade a tua alma por causa de frustrações, revolta, decepções de qualquer natureza, tirem de você o desejo de recomeçar.

Conheça Jesus. Ele tem perdão para te dar seja qual tenha sido a sua escolha. E Ele tem amor suficiente para te acolher e te abraçar independentemente do mal que você tenha cometido ou pensado em cometer.

O remorso de Judas levou-o ao suicídio, mas o seu arrependimento sincero levado a Jesus pode lhe dar uma Nova Vida.

Estou à sua disposição para conversar e orar contigo, caso queira, bastando que você retorne esta mensagem.

Deus te abençoe!

Pr. Oniel Prado

Inverno de 2021

19/09/2021

Brasília, DF

Oniel Prado
Enviado por Oniel Prado em 19/09/2021
Reeditado em 25/10/2021
Código do texto: T7345574
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