Professores em excesso?! Onde?
Chegar ao final da carreira de magistério depois de 35 anos de trabalho no ensino fundamental, médio e superior e ouvir um presidente da República dizendo que há professores em demasia, que até atrapalham a educação, é a maior agressão que eu e todos os meus colegas poderíamos sentir na carne. Que tristeza! Que revolta! Foi uma facada real e objetiva contra o conhecimento, contra a ciência, contra a inteligência.
Quando o Marquês de Pompal expulsou todos os Jesuítas que trabalhavam no Brasil, eles que eram os responsáveis por todos os colégios do período colonial, a educação brasileira perdeu praticamente o equivalente a cem anos. Qualquer retrocesso na área educacional o prejuízo é calculado em ordem geométrica.
Numa época em que o Brasil foi um dos países que menos investiu em educação no período da pandemia, quando o Banco Mundial calcula uma perda na aprendizagem dos alunos em torno de três anos, não acreditamos que alguém possa fazer tal afirmação mesmo que tenha sido para garantir o apoio daquele grupo que age irracionalmente o tempo todo. Não apenas ficam satisfeitos com as afrontas diretas à democracia, como projetam o esvaziamento das escolas.
Já não temos mais concursos para professores efetivos nas prefeituras, com raras exceções, transformando o cargo de professor numa moeda eleitoral para nomear os apadrinhados dos tempos eleitorais. Contratos de professores substitutos aos montes. Concursos quase nada. E assim tantos jovens professores se lançam em verdadeiros bicos profissionais, dando aulas em quatro colégios ou mais.
Onde é que há professores demais? Façam a lista deles. Ou estaremos na mesma sinfonia do voto impresso alegando fraude que nunca apresentou provas. Estamos num navio muito perigoso. A falsidade e as mentiras são transformadas em notícias verdadeiras. E o povo ignorante vai repetindo o tempo todo.
Não iremos a lugar nenhum jogando a educação na vala mentirosa e na dissimulação deslavada. O país cai num abismo onde habita apenas a escuridão da ignorância, da falsidade, da mentira, da barbárie. O caminho civilizatório parece ter sofrido explosões tão fortes que a nação vai perdendo o rumo. A ciência está sendo negada o tempo todo. Médicos vendem seus diplomas em troca de mentira ou falso diagnóstico. Crenças substituem o conhecimento. Hoje a punhalada que sofremos enquanto professores sangra demais. Não há como estancar. Só desbancando o lugar do acinte e da incapacidade de alguém que diz e desdiz em segundos. Faz e volta atrás.
Somos um barco sem timoneiro numa tempestade.