VIDA DE LUTADOR NOS ANDES
No Peru, tinham vendedoras de peixe em cada esquina, já que eram terras banhadas pelo oceano índico, com uma carrocinha, pratos e fogareiro, eles ou elas, fritavam os peixes ali mesmo. Depois pegavam os pratos e os enxaguava numa bacia com água já suja de tantas lavadas, e depois esfregavam as mãos no seu avental, que também estavam sujos de tanto esfregar as mãos. Eu ficava com água na boca, mas ficava fora destes vendedores que não tinham uma higiene mínima para as suas funções. Em lima, era comum ira passear na Praça San Martin, e também no centro, onde tinha uma rua chamada de Giron da La Union. Ali ficam as lojas principais e eram onde as gurias passeavam, e eu ia ali para vê-las. No sentido de paquera, era bem diferente do que a gente via aqui em Porto Alegre. Nós ficávamos mesmo falando em espanhol, era só na mirada, ou só dando uma olhada. Aproveitava a ida no centro, para tomar uma raspadinha, que era puro gelo, raspado, e misturado com sucos de frutas, era uma delícia e depois ia tomar suco de milho, os quais tinham do tipo branco e roxo. Na academia de musculação, eu costumava tomar leite, com algarrobina, que era um tipo de planta local, e que ajudava como nutriente, para um melhor desenvolvimento dos músculos nos treinos. Fazia três treinamentos com musculação, e intermediando fazia uma pegada no judô. Não havia treinamento de luta cênica, pois o ringue era desmontado, após cada noitada, para liberar espaço, como acontecia também aqui no Brasil. Era pura improvisação, o que poderia ocorrer alguns riscos decorrentes. Hoje nós vemos que existem treinamentos, pois não seriam possíveis os atletas fazerem tantas performances que são vistos. Era comum eu mandar fazer dois ovos batidos no liquidificador, com cerveja preta. Sempre me cuidando no sentido de estar bem preparado fisicamente. Numa seqüência de luta, onde eu deveria subir na terceira corda, dar um salto mortal por cima do oponente “marca registrada” a corda estava esticada como uma corda de violão, e quando executei o salto mortal, eu subi de uma forma tal, que fizeram com que os meus pés batessem no jogo de luzes que estava suspenso, e localizado no centro do ringue. Consegui dominar a continuidade da queda, até em função da altura, e cai em pé, dando seguimento do combate. Não despencou a parafernália com as lâmpadas, mas ficou balançando por um bom tempo, dando um espetáculo extra ao publico. Como saltar através da terceira corda, era um hábito, próprio que eu usava na maioria das lutas, que eu não tinha a preocupação de ver o estiramento da corda, pois ao saltar, era no ar que eu dominava o giro, para cair em pé. Só que ao contrário, a corda estava totalmente frouxa, por algum defeito de quem montou o ringue. O salto ficou extremamente baixo, e não deu tempo de dar a volta completa, e cai de ponta cabeça, levemente apoiando as mãos, para amortecer o impacto. Essa falhou, e o publico fez “huoooo.” Senti que a cabeça entrou no pescoço, fiz uma encenação, como se a queda estivesse no programa, e continuei lutando até o fim. Na realidade fiquei com uma pequena dor no pescoço e ombros, que acabou melhorando com o passar do tempo. Mas sem tomar remédios. É SEMPRE BOM ANALIZARMOS PREVIAMENTE AS CONDIÇÕES TÉCNICAS. Na Bolívia eu tinha uma namorada, e ela me convidou para participar de uma excursão com os demais colegas do seu colégio para, conhecermos as ruínas de Pachacamac. Era um fim de semana e lá fomos nós, era uma cidade turística onde fazia parte um museu, que continham enormes esculturas de pedras. Foi daí que eu me lembrei do tempo em que eu era criança e meu pai tinha uma olaria onde fazíamos bichinhos de barro. Tomei como inspiração e prometi que quando eu voltasse para o Brasil iria tentar fazer totens como aqueles das culturas primitivistas incaicas, pois eu já estava pensando que eu deveria ter algum tipo de hobby, uma vez que as lutas se tornaram uma maneira de ganhar dinheiro. Me hospedei num hotel em La Paz, onde o banho quente estava situado em uma sala separada, para serem usados pelos hospedes. Quando alguém queira fazer uso de banho quente, teria de pedir uma chave na portaria para ter acesso ao mesmo. Estava eu lá tomando aquele banho quente gostoso, sem pressa, mas deixei de trancar a porta por dentro. Uma mulher chegou e abriu a porta, e me viu tomando banho, e claro que pelado. Olhou-me de cima até em baixo, numa calma, sem se espantar, fechou a porta e saiu. Foi uma aparição nua, mas que não assustou a Boliviana. Fui num aniversário na casa de uma amiga em La Paz. Uma festa bonita, muita gente na sala de hospedes, muitos rapazes e também muitas gurias, eu me sentia em casa, mas só faltava uma bebida para a gente ficar mais descontraído e dançar um pouco. Estávamos todos os rapazes em forma de um semicírculo, e de repente apareceu uma cerveja, e um só copo. O rapaz ao meu lado encheu o seu copo e passou a garrafa de cerveja para mim, eu fiquei com a garrafa e como iria tomar sem o copo. Então o cara tomou e depois também me passou o copo, ai é que eu entendi o ritual, a pessoa tomava a cerveja, passava a garrafa para o seguinte, e depois de beber o conteúdo do copo passava este também. Assim até a garrafa esvaziar e depois vinha outra. É um sistema que a gente vai se acostumando com o viver com outros povos e suas culturas e ritos. “E MAIS FÁCIL NÓS ACUSTUMAR-MOS COM AS CULTURAS DOS OUTROS, DO QUE A GENTE QUERER MUDÁ-LAS” Ainda em La Paz, fui convidado para o casamento de um dos lutadores, “LA BESTIA o cara era muito feio” O homem das cavernas era muito mais lindo, não sei como ele conseguiu uma noiva. Era num restaurante. Um belo jantar acompanhado por vinho, e no final da comilança, um dos convidados jogou uma taça contra a parede, quebrando-a, dali a pouco outro convidado fez à mesma coisa, e mais outro, então eu também me entusiasmei, pequei a taça e crau na parede, partindo-se em mil pedaços, foi uma alegria só, e um grande brinde. Quando terminou a bagunça toda, veio o garçom apresentando a conta das taças quebradas, e todos os que as quebraram tiveram que reembolsar o restaurante. Vivam os noivos.