Marcos Augusto Trindade
Marcos nutria especial carinho à mãe, Maria Noêmia, e vaidade pelo pai, José Augusto Trindade, primeiro Diretor do Patronato Agrícola em Bananeiras, e idealizador do oásis sertanejo de São Gonçalo, onde, como exímio agrônomo, fazia existir muita água e muito verde. Alguns outros orgulhos na vida, que mantinha, em muitas fotografias em preto e branco, numa caixa de sapato e em envelopes amarelos, testemunhavam ter estado ao lado do Papa Pio XII; ter partido para Roma num hidroavião, da Praia do Jacaré, para, em Recife, ele e Francisco Pereira da Nobrega embarcarem num navio francês e desembarcarem em Napoli. Eram meados de 1948, quando ainda se respiravam o fim da guerra e a demonstração das ruínas. Retratos de outros orgulhos, como o do estar vestido de calção e camisa de manga comprida, dizendo-se o melhor goleiro que teria passado pelo Collegio Pio Brasiliano, nos torneios universitários de Roma. Mesmo sem ilustração fotográfica, conversar com Marcos Trindade era divertido, tudo dito em frases curtas e fortemente sugestivas, de coisas memoráveis e também da sua prodigiosa memória, pois jamais esquecia detalhes, como seus ex-alunos e os nomes dos seus pais.
Em 1959, quase no fim dos meus onze anos, meu pai Inácio lhe entregou o filho, ao internato, de onde só saía para Itabaiana, durante as festas juninas e as longas férias do fim do ano, no Natal, com retorno antes do Carnaval, para, durante os três dias, os seminaristas passarem em retiro, meditando sobre as coisas do mundo, sem sentirem-se “tentados por elas”. Naquele tempo, não me fazia falta o carnaval, porque nunca o tinha experimentado... Na vetusta portaria do histórico complexo da Igreja de São Francisco, Padre Marcos me recebeu, em nome do Reitor Luís Gonzaga Fernandes, e delineou ao meu pai como seria o quotidiano da “minha formação”: estudar, ler, orar, meditar, jogar bola, sobretudo dedicar-se ao estudo. Desde então surgiu a minha admiração pelo Padre Marcos, o que, dia a dia, transformava-se em amizade, dada a sua simplicidade. Padre Marcos se caracterizava como um sacerdote engajado nos tempos modernos, o primeiro padre a ter lambreta em João Pessoa, que confiava aos meus cuidados; depois, seu fusquinha; o primeiro a usar batina bege, para, logo depois, passar a vestir clergyman, logo substituído por roupas comuns, mesmo sob a censura dos conservadores. Também assim, era o escolhido para lidar com jovens, levando-me a esse convívio com a Juventude Estudantil Católica (JEC), em razão de que era tachado pelos retrógrados como “subversivo”. Essas coisas vão e voltam na história...
Marcos sabia entregar, aos que ele conquistava como amigos, tarefas, responsabilidades de confiança. Sendo assim, indicou-me, nos meus 18 anos, para ser “ecônomo” do Seminário, o que consegui desempenhar sem embaraço, fazendo inclusive inovações e modos de produção para aquela comunidade se autossustentar com criações, hortas e padaria, até poder transferir o Seminário, do Centro Histórico ao novo prédio na Granja São Rafael. Convidou-me também, em 1971, para ser o Vice-Diretor e Coordenador-Geral no Colégio Arquidiocesano Pio XII, quando esse educandário se soergueu, mais do que triplicando o número de alunos. Enfim, com José Loureiro Lopes e ele, trabalhamos, ab origine, na elaboração curricular e no funcionamento do Instituto de Psicologia (UNIPÊ), cujo curso se consagrou um dos mais procurados na Paraíba. Em 1981, o reitor e o vice-reitor da UNIPÊ, Marcos e José Trigueiro do Vale, visitaram-me em Paris, de onde iniciamos um périplo de visitas às universidades na França, Itália e Alemanha, indo até à Universidade do Povo, em Moscou. O “ide e ensinai do Evangelho” lhe bateu forte, na Igreja, nas escolas, tornando-o um educador de excelência.
Marcos nutria especial carinho à mãe, Maria Noêmia, e vaidade pelo pai, José Augusto Trindade, primeiro Diretor do Patronato Agrícola em Bananeiras, e idealizador do oásis sertanejo de São Gonçalo, onde, como exímio agrônomo, fazia existir muita água e muito verde. Alguns outros orgulhos na vida, que mantinha, em muitas fotografias em preto e branco, numa caixa de sapato e em envelopes amarelos, testemunhavam ter estado ao lado do Papa Pio XII; ter partido para Roma num hidroavião, da Praia do Jacaré, para, em Recife, ele e Francisco Pereira da Nobrega embarcarem num navio francês e desembarcarem em Napoli. Eram meados de 1948, quando ainda se respiravam o fim da guerra e a demonstração das ruínas. Retratos de outros orgulhos, como o do estar vestido de calção e camisa de manga comprida, dizendo-se o melhor goleiro que teria passado pelo Collegio Pio Brasiliano, nos torneios universitários de Roma. Mesmo sem ilustração fotográfica, conversar com Marcos Trindade era divertido, tudo dito em frases curtas e fortemente sugestivas, de coisas memoráveis e também da sua prodigiosa memória, pois jamais esquecia detalhes, como seus ex-alunos e os nomes dos seus pais.
Em 1959, quase no fim dos meus onze anos, meu pai Inácio lhe entregou o filho, ao internato, de onde só saía para Itabaiana, durante as festas juninas e as longas férias do fim do ano, no Natal, com retorno antes do Carnaval, para, durante os três dias, os seminaristas passarem em retiro, meditando sobre as coisas do mundo, sem sentirem-se “tentados por elas”. Naquele tempo, não me fazia falta o carnaval, porque nunca o tinha experimentado... Na vetusta portaria do histórico complexo da Igreja de São Francisco, Padre Marcos me recebeu, em nome do Reitor Luís Gonzaga Fernandes, e delineou ao meu pai como seria o quotidiano da “minha formação”: estudar, ler, orar, meditar, jogar bola, sobretudo dedicar-se ao estudo. Desde então surgiu a minha admiração pelo Padre Marcos, o que, dia a dia, transformava-se em amizade, dada a sua simplicidade. Padre Marcos se caracterizava como um sacerdote engajado nos tempos modernos, o primeiro padre a ter lambreta em João Pessoa, que confiava aos meus cuidados; depois, seu fusquinha; o primeiro a usar batina bege, para, logo depois, passar a vestir clergyman, logo substituído por roupas comuns, mesmo sob a censura dos conservadores. Também assim, era o escolhido para lidar com jovens, levando-me a esse convívio com a Juventude Estudantil Católica (JEC), em razão de que era tachado pelos retrógrados como “subversivo”. Essas coisas vão e voltam na história...
Marcos sabia entregar, aos que ele conquistava como amigos, tarefas, responsabilidades de confiança. Sendo assim, indicou-me, nos meus 18 anos, para ser “ecônomo” do Seminário, o que consegui desempenhar sem embaraço, fazendo inclusive inovações e modos de produção para aquela comunidade se autossustentar com criações, hortas e padaria, até poder transferir o Seminário, do Centro Histórico ao novo prédio na Granja São Rafael. Convidou-me também, em 1971, para ser o Vice-Diretor e Coordenador-Geral no Colégio Arquidiocesano Pio XII, quando esse educandário se soergueu, mais do que triplicando o número de alunos. Enfim, com José Loureiro Lopes e ele, trabalhamos, ab origine, na elaboração curricular e no funcionamento do Instituto de Psicologia (UNIPÊ), cujo curso se consagrou um dos mais procurados na Paraíba. Em 1981, o reitor e o vice-reitor da UNIPÊ, Marcos e José Trigueiro do Vale, visitaram-me em Paris, de onde iniciamos um périplo de visitas às universidades na França, Itália e Alemanha, indo até à Universidade do Povo, em Moscou. O “ide e ensinai do Evangelho” lhe bateu forte, na Igreja, nas escolas, tornando-o um educador de excelência.