Tentando explicar o que se passa na minha cabeça

"Há um pouco de você em tudo que toco,

mas tudo que toco é incerto e turvo.” -

Textos Cruéis Demais Para Serem Lidos Rapidamente

Eu ando pela minha casa e reconheço você em qualquer coisa. Parece que você está entre as paredes, escondido ou apoiado em algum móvel esperando eu chegar. Eu lembro de detalhes pequenos nossos, de como você me tratava como uma porcelana prestes a ser quebrada. De como você cuidava até para o meu cabelo não cair no meu olho.

Eu fico viajando pelas memórias que meu coração desperta. Da dança num fim de tarde, das jogatinas de Uno, dos filmes de suspense a que assistimos. Eu adorava vê-los com você, principalmente porque somos uma bela dupla de detetives.

Logo penso em como seria se estivéssemos juntos novamente. Eu não consigo voltar para aquilo sem que meu estômago embrulhe. Ele simplesmente se remexe dentro de mim, em busca de me alertar que por mais que eu ame cada detalhe seu, quando estávamos distante era um tormento exacerbado. A minha cabeça doía. E eu querendo fazer de tudo para que não pensasse que eu estava mal. Fazendo de tudo para parecer animada. Porém, eu não conseguia ser atriz com tamanha turbulência. Minhas habilidades se enfraqueciam e eu só conseguia demonstrar cansaço. Eu estava cansada de ficar preocupada. De me esforçar para não fazer algo que te deixe triste ou que faça você criar teorias.

Eu só precisava de um tempo para respirar, olhar pela minha janela e pensar. Eu queria poder falar que queria um tempo, sem que você ficasse pensando nos “motivos” para eu pedir um tempo.

Minha garganta fecha. Lembro de quando meus tendões gritavam, tentando alertar que estou pressionada. Que precisava resolver o que quer que fosse. Encontrar a saída para o que tinha me deixado no escuro. Eu entendo que se tudo voltar, eu vou entrar em pânico e surtar. Porque vou ficar com aquela ansiedade doida, de que se eu não te responder, você vai ficar bravo ou chateado.

Eu lembro que por mais que tenhamos uma conexão incrível, você nunca conseguiu me entender. Como quando, no hospital, eu estava com a minha mãe, que não conseguia nem se quer falar e eu tinha certeza que ela iria me deixar. Eu nunca tinha visto a minha mãe tão mal, como vi naquele dia. Eu sabia que Deus chama as pessoas santas primeiro. Eu fui estúpida com você, nesse dia, porque estava muito nervosa com toda a situação. Aquelas semanas foram um verdadeiro mar de efervescência para mim. Você querendo entender o que estava acontecendo comigo e eu só queria uma voz pra me dizer que estava tudo bem. Que tudo iria ficar bem. Que o problema não era você. Que você só era atingido por estar perto demais, de um gás borbulhante em um meio líquido.

Porém, quando estou subindo uma serra em uma neblina e eu fico tensa, eu abaixo a cabeça no meu travesseiro, tremendo, e peço pra Deus, que se caso eu morrer, Ele precisa dizer pra você que eu te amei. Que amei cada pedaço seu, embora algumas vezes me machucavam.

Contudo, quando eu penso em você, eu também sinto um alivio. Eu ando até a minha janela e fecho os olhos. Eu penso que estou em uma ponte bem alta e sentindo o vento. Eu sinto que estou livre, que posso respirar e decidir por mim mesma. Que ninguém mais pode controlar os meus passos, nem meus pais, nem instituições da Igreja, nem minhas amigas. Só eu.

Elena Estrela
Enviado por Elena Estrela em 16/09/2021
Código do texto: T7343539
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