A IRA DE JESUS.
A águia não constrói seu ninho no salgueiro-chorão, dizia Khalil Gibran. Como o leão não busca a caverna entre as samambaias.
Onde está o pragmatismo da proposição secundada pelo instinto? Ninguém nasce com as mesmas características, nada na natureza racional e irracional. Nada das espécies; todas. A águia voa alto, pode enxergar como nenhum outro ser vivente, o leão por sua força faz temer a todos, mas pleno de sabedoria não ficaria visível na defesa e no ataque.
Assim é o homem, e Jesus foi um Homem. Jesus não foi um débil, só exortou ao Pai, Abba, pendendo da Cruz, nos momentos finais: “Abba, por que me abandonastes?" Quanto simbolismo nessa súplica.
Os padres em suas prédicas pobres nada falam disso, os crentes nem conhecem em suas submissões estreitadas a largura dessa conduta.
Causa estranheza, credito aos débeis de coração, adjetivarem Jesus de humilde e manso, justificando sua própria debilidade.
“Era um covarde quem sacudiu o punho à face das autoridades e chamou-lhes mentirosas, vis, corruptas e degeneradas?”, afirma Khalil Gibran, “Jesus O Filho do Homem”, fls. 54.
Poucos entenderam Jesus. Os romanos associados aos Judeus que O invejavam e o mataram, covardemente, liderados por Caifás, e por isso penam na "Terra Prometida" não alcançada nunca, invadida a Palestina com genocídio de inocentes, crianças e civis exterminados para usurpação de suas terras. Certa vez um advogado judeu que me ouvia juridicamente, disse eu que tinha escrito um livro sobre Jesus, disse com raiva, "não me fale de Jesus", com absoluta falta de tudo, até de mínima educação. Um ódio permanente, o filho é rabino em Israel. Um nojo sua reação, têm eterna raiva do Cristo, um judeu como eles.
Os romanos mataram-no por temor, os judeus por inveja. Ninguém teme os fracos. Os que não têm a ira justa.
Jesus era puro de coração, e destemido. Não tinha medo, embora sendo frágil, como frágil se mostrou na cruz, pois era humano, apelando para o Pai em seu abandono e martírio.
É difícil entender o Deus-Homem, e mais ainda Sua existência. Os acreditados, de entendimento apequenado, pensam entender essa jornada inigualável. Nada entendem, reduzido entendimento, Jesus não foi só amor, mas atitude, força, ira. O amor por si só não faz a Justiça que Ele veio protagonizar, como dito a Pilatos, quando perguntado o que era a verdade, e ecoa até hoje no mundo sua resposta; veio fazer justica. A Justiça se faz pela força, pela lei moral, com a espada que a garante.
O paganismo no curso do tempo aceitou essa mística. O sistema civilizatório distinguiu onde distinção não havia. E pacificou-se no fio da fé e da razão, naquela através do Cristianismo, nesta pela teologia, principalmente pela Patrística, com Tomás de Aquino.
Não há ira genérica, pois nem toda ira anda ao lado do mal, mesmamente nem toda serenidade é sadia, quando se pede revolta.
Ocorre da ira ser cura, não daninha e agressiva, a ira de Jesus, e da serenidade ser covarde, quando se aquieta aquele de quem se pede ação.
A ira nasce da revolta justa que faz justiça. Peca quem não se ira, quando a reação era justa, e peca quem se torna sereno quando não devia.
Jesus se irou quando expulsou os vendilhões do templo de seu Pai. Nem toda ira é maldade, como a serenidade não é desejável em muitos momentos.
A ira de Jesus nasceu da cólera santificada. No sacrário da terra dormem ossadas de muitos que fizeram da ira valor máximo na perseguição da justiça. É altar da verdadeira humanidade, onde se deposita a saudade daqueles que se entregaram ao que há de melhor para o homem, e morreram martirizados e imolados pela ira santa.