...CLAMANDO "NO DESERTO" !

... CLAMANDO "NO DESERTO" !

"...cada vez mais nossa história é dimi-

nuída, asfixiada, negada. Tornamo-nos

mais um número na multidão, mais um

número de cartão de crédito". (pag. 186)

Eis que no jornal desta manhã de segunda-feira, 13/setembro, vejo nova crônica do excelente jornalista Ruy Castro, que admiro desde os tempos d'O PASQUIM, 1970 'e lá vai caco", nem consigo mais recordar a expressão correta. Mas Ruy explana quem seria o tal Agrippino Grieco que, pelo visto, poderia ser o espírito redivivo do famoso poeta baiano Gregório de Matos, o "Boca do Inferno". Cento e tantos anos depois, Agrippino "desanca" -- em frases e crônicas -- autores e os tempos que viveu, à semelhança do vate odiado lá de Salvador.

Tomo ciência que "avacalhou" tanto o cronista Coelho Neto, figura que aprecio, quanto o festejado 'Bruxo do Catete", do qual não aprendi a gostar. Deste, cravou com adaga precisa: 'Acreditava-se um humorista porque vivia de mau-humor" ! Duvido que Machado de Assis tenha se calado, se vivo era, quando Grieco lançou-lhe esse "pepino" goela abaixo. Mas Agrippino não poupava crentes nem ateus, "gregos ou troianos", aliás expressão idiota, pois Tróia seria parte do arquipélago que forma a Grécia.

Sobre um vate do Passado, cuja obra lhe soara intragável, "reescreveu" cáustico epitáfio: "Seu único mérito consiste em estar morto" ! Não "livrava a cara" nem dos amigos... "Voto-lhe estima tão forte que ela resistiu à leitura de seus livros" ! Agrippino "desceu o pau", ou melhor, "mirou a pena" impiedosa até contra os poetas parnasianos, a maioria pelo menos, "com poemas pretensiosos e imprestáveis (...0 perfeitamente inúteis". Ruy segue com amostras do talento (?!) do polemista, que se foi aos 85 anos após torturar escritores à torto e à direita... suponho que o "torto" aí signifique esquerda, a mão dos canhotos, do 'Tinhoso", dos "errados" na Vida, como eu.

ONTEM é sempre Poesia, HOJE é quase sempre prosa" ! Como se vê, nem só de "pancadas" viveu o autor... porém, ouso discordar de Ruy Castro à respeito da frase filosófica "sobre a Vida não bastar SEM A ARTE" ! Justo na noite anterior lera eu pensamento idêntico, só que pela "boca" de um pensador dos 1700, embora infelizmente não tenha conseguido localizar a obra onde vi a referida citação.

Dúvidas à parte, a crônica de Ruy Castro "martela" um tema comum a quem escreve: 1) encontrar leitores, "produto raro" até entre parentes e amigos; 2) receber "feedback", retorno pós-leitura, um "palpite" que seja, algum sinal que vença o silêncio ou supere a "apatia" geral em relação à Literatura, ao texto escrito e, por fim, 3) quem sabe, talvez, algum dia, um solitário cristão que nos leu "de cabo a rabo" (epa !) manifeste seu incentivo para que continuemos nessa "estrada para Damasco" com alguma esperança.

De minha parte, além de "colecionar desafetos" com meus escritos, amealhei "pelo Caminho" amigos que nem me leem mais, somente carimbam o "polegar azul" como cientes do recebimento do texto. Foi enorme o meu espanto, quando amigo recente -- com sobrenome de bretão ou escocês e ar de extraterrestre -- insistiu via Facebook que eu publique 1 LIVRO com meus "rabiscos" estrambóticos ?! Vou aguardar mais uma voz semelhante... "clamando no deserto", somente para ter certeza de que não se trata de um sonho alucinado !

"NATO" AZEVEDO ( em 13/set. 2021, 16hs)