O bolsonarista é um "homem cordial" negativo
No Brasil é censo comum o entendimento de que uma "pessoa cordial" é aquela detentora de um conjunto de virtudes positivas em relação aos afetos ou emoções. Geralmente quando se diz que uma determinada pessoa é "cordial" está se referindo à ela como uma pessoa dotada de valores de hospitalidade, de generosidade e de uma expansividade de suas emoções ou afetos amigáveis em relação ao outro. Ou seja, esta pessoa pensa com o coração. Ela é exageradamente emotiva e pouco racional em suas ações cotidianas. Claro que isso se tornou um grande equívoco conceitual quando migrou para o censo comum na política. Quando o historiador Sérgio Buarque de Holanda construiu este conceito do "homem cordial", para pensar o Brasil e os brasileiros, ele não pensou numa perspectiva somente positiva dos afetos ou das emoções na vida social e política brasileira. O "homem cordial" para este historiador era dotado também de afetos negativos. Um dos traços marcante da negatividade do "homem cordial" era a irracionalidade ou pouco amor pela uso da razão. Este "homem cordial" tem horror e desrespeito aos formalismos institucionais da vida cotidiana seja no mundo social e político. É uma pessoa que não é capaz de fazer qualquer distinção racional do que é "público" e do que é "privado". Não sabe separar cognitivamente o que é Estado e o que é família, bem como o que é religião e o que é política. Este "homem cordial" de afeto negativo, diria Sérgio Buarque de Holanda, só sabe se exprimir de forma exageradamente passional, tomado por personalismo bruto e violento, bem como tomado por uma irreverência irresponsável em face as normas institucionais da vida social e política de não submissão. Este "homem cordial" de afeto negativo é o homem bolsonarista de hoje identificado pela inteligência histórica do passado.