MOCINHA

 

        Ontem conheci Mocinha. Mocinha nos gestos, na alegria e no pensar.

A idade cronológica de mais ou menos uns oitenta anos deixava transparecer marcas de um tempo que ela viveu intensamente ao lado dos que lhe foram e são queridos.

 De fala macia e cativante, falou-me da filha, de sua terra natal e sua preferência pela música.

O olhar era doce e vivo, parecendo sempre estar pronto a descobertas novas do mundo atual em que vivemos. Com certeza, o cognome introjetara-se naquela personalidade, fazendo dela uma jovem, uma verdadeira mocinha de Conto de Fadas.

Fiquei embevecida com o que dizia. Imaginei-a moça, recitando poemas e contando histórias infantis para a filha que, na certa, em muitas noites adormecera o sono tranqüilo dos anjos, embalada por seu carinho de mãe.

O tempo não lhe roubou a arte de comunicar-se, passar mensagens e lições de vida para todos à sua volta. E o realizava com muita alegria, com um saudosismo sadio que me fez reportar à sua juventude, que não parecia ter-se perdido num tempo tão corrido neste princípio de século.

A tarde já começava a cair, e a filha carinhosamente lhe trouxera um agasalho por causa do frio que já começava a incomodar. Ao fazer isso, falou-me de uma cirurgia cardíaca que a mãe há pouco tempo fizera, e precisava preservá-la de quaisquer agressões, mesmo que fossem da natureza. Com este gesto simples e cordial, pude sentir o amor da filha para com aquela senhora que me cativara naquele momento. Apenas Mocinha...

O nome não lhe conheci. E para que tal conhecimento? O que importava era presenciar a dignidade de uma senhora, que, sem ser altiva, fez-se tão presente naquela tarde fria de outono, contando histórias simples que lhe deixaram transparecer a pureza de sua alma.

Vilma Tavares
Enviado por Vilma Tavares em 12/11/2007
Reeditado em 17/11/2007
Código do texto: T734242