SCARAMOUCHE LUTADOR... QUEM FOI

Os caminhos percorridos até me tornar um lutador profissional cênico iniciaram em tempos mais remotos. Quando eu tinha uns oito anos e morava em Passo Fundo. Eu tinha um primo que estava aprendendo Judô. Ele era um militar, e trouxe para a sua casa alguns colchões usados no quartel e com estes fez uma espécie de tatami onde treinava. Convidou-me para fazer umas aulas: na realidade com oito anos era para pra brincar do que lutar sobre o tatami. Foram os meus primeiros contato com a arte de lutar, que dei continuidade, quando amadureci. Mais tarde adquiri um livro, com técnicas de Judô. Desde cedo eu já era considerado um autoditata. Mas posteriormente fui escolado através de academias. Eu estava com 25 anos, um ano antes da minha saída da Olivetti do Brasil. Iniciei, no canal 12 no programa ringuedoze, patrocinado pela empresa Marinha Magazini. Era considerado um dos programas de maior audiência no RS, e que tornavam os lutadores muito conhecidos pelos que curtiam aquele programa: Não tinham muitas opções naquela época. Todos os lutadores tinham um estilo para se apresentar, tanto pela indumentária para adentrar no ringue, que tinham seus adornos combinando com os gostos de cada um, como também o próprio estilo de luta. O meu início começou, quando o juiz de cach, chamado Nilo Rizzo, foi na empresa onde eu trabalhava para pagar uma duplicata pela aquisição de uma máquina de escrever. Como eu era o caixa geral da Olivetti do Brasil, reconheci a figura do juiz, e indaguei a respeito das lutas, pois eu praticava Judô e Ginástica Olímpica, e acabamos fazendo amizade. Então ele acabou me convidando para participar dos treinamentos com os outros atletas de Luta. Não pensei duas vezes e ali estava começando a história de SCARAMOUCHE. Eu sempre me apresentava com a característica própria de um lutador no verdadeiro estilo HIGH FLYER (estilo voador). Como as maiorias dos lutadores cênicos, vêem de algum tipo de luta anterior. Eu era originário do Judô e praticante de ginástica olímpica na Sogipa sendo esta última a que me deram as características do meu estilo voador. Durante as exibições, eu usava muito dos saltos mortais, com apoio nas cordas para impulsionar-me por cima do adversário. Além de outras acrobacias que eu usava como técnicas no decorrer dos golpes contra os meus “ algozes”, combinados com as técnicas do Judô. Para manter as características de um lutador estilo HIGH FLYER. Quando eu saia de cima do ringue ao término do combate, eu fazia uma preparação na borda do ringue e com um salto mortal, ia até o solo, com os braços estendidos. Era o meu show final e a minha marca registrada, e por isso eu era o SCARAMOUCHE, o famoso espadachim do romance de Rafael Sabatini, que tinha estas características de dar saltos mortais, quando enfrentava os seus adversários. A escolha do nome feito também pelo juiz Nilo Rizzo, é uma homenagem ao verdadeiro Scaramouche do livro e do filme. No meu tempo de atuação em aproximadamente três anos. (até 1970). Existem alguns nomes, que devo citar nas minhas memórias, com os quais lutei e como uma forma de homenagem e de manter seus nomes em minhas lembranças como adversários cênicos, mas principalmente como grandes amigos que tive, e alguns in memoriam, mas que todos, merecem que seus nomes fiquem destacados nesta minha crônica, que ficará na história da luta livre. Nick Carter, El Cid, Cigano, Stiner, El Duende, Capanga, Barba Roja, Dr. Jeckil, Búfalo Bil, El Condor, Bobby Olson, Vingador, Giuliano, Leal, La Bestia, El Montruo, The Tempest, Leopardo, Super Demon, Jangada, Ringo, Rudney, Diamante Negro. 38 - LUTADORES QUE MARCARAM NO MEU TEMPO Silva, Moicano, Ted Boy Marino, Bala de Prata, Verdugo, Fantomas, Leopardo, Mr. Argentina, Mr. Chile, Falcão, Sunchi Hinata, Apolo, Rando, Electron, Kindar, King Kong, Demônio Cubano, Cavaleiro Vermelho, Cavernari, Gran Caruso, Romano, Ali Bunani, Sheik, Sansão, Antonielo, Chaves, Apache, Mamut, Bucher, Ciclone, Fidelão, Lothar. Quero transcrever aqui uma entrevista ao jornal “Folha da tarde” no ano de 1981, feita pelo grande lutador que veio da Argentina chamado EL CONDOR e escolheu a cidade de Porto Alegre como o seu lar, onde viveu até sua morte. É a sua forma de explicar o que é a luta na qual fazíamos parte “É um esporte artístico que praticamente todas as pessoas levam dentro de si. Ajudamos as pessoas a largar o seu ódio fora. O importante sobre o ringue, é que como na vida real, o sofrimento pareça autêntico que por instante nenhum se detecte o fingimento, um acordo, uma simulação. A justiça da vida se transfigura sobre o ringue e a platéia respira aliviada enquanto volta aos seus lares”.
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 14/09/2021
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