ACIDENTE COM O MEU GORDINI

Numa noite convidativa, eu mais dois amigos programamos uma curtida em Ipanema/RS pretendíamos ir a uma boate. Um dos meus amigos estava com o seu fusca e a namorada, eu e mais um amigo japonês no meu carro, leia-se Gordini. Apanhei primeiramente a minha namorada, conseguida naquele dia, e depois nos dirigimos à casa da namorada do japonês. Estacionamos os dois carros, e o japonês, foi buscar a sua namorada, quando ele regressou, eu estava sentado no banco traseiro, então ele colocou a sua namorada no banco que eu estava, e ele sentou-se no banco do motorista com a minha namorada.

Após a combinação do local onde iríamos passear em Ipanema, o japonês perguntou para mim se ele podia dar a partida no carro, já que ele estava no meu lugar, e continuava acompanhado da minha namorada, e eu com a namorada dele: Afirmei que sim, mas não percebi que ele estava embriagado, já que pelo fato de ser japonês, ele falava com sotaque próprio da língua. Nove e poucos da noite, não era normal estar embriagado.

Saímos os três em dois carros o fusca e o Gordini, saída normal, adentramos a Rua Dom Pedro II em Porto Alegre/RS com mínimo de carros pelas ruas, um que outro passava por nós. Pouquíssimas possibilidades de acontecer alguma batida. Estamos andando, e notei que um carro vindo em sentido contrário, passou rente ao nosso, isto queria dizer que o japonês, estava indo para o lado esquerdo da pista. O próximo carro vindo no sentido contrário, era um Ford ano 1946, notei que o japonês estava muito a esquerda, e naquele momento ele estava dormindo ao volante, e a minha namorada ao lado dele também não notou.

Mas eu vi que o nosso carro estava muito a esquerda, e notei que o Ford, iria bater na nossa frente. Lembro-me de ter levantado do banco traseiro para tentar acionar o freio de mão, tarde demais não houve freada e a batida foi na velocidade que estava, e um carro contra o outro, o Gordini foi empurrado para trás. O Ford 1946 só sofreu o amassamento do radiador, e o motorista saiu ileso. Meu amigo do fusca ficou de fora, pois ainda era menor, e não possuía carta de motorista.

No gordini o estrago foi muito grande. O guidão dobrou em ângulo reto contra o peito do Japonês, os bancos dianteiros se deslocaram, o assoalho se dobrou, em forma de ondas, o japonês ficou com a parte inferir da boca com um corte que vinha desde o lábio inferior, até a parte do queixo e desmaiado, as gurias gemiam. Eu estava sujo de sangue e perdi a noção por algum tempo, mas recuperei e retirei o banco dianteiro com o Japonês sentado e os coloquei na calçada, retirei as duas gurias feridas e também às coloquei na calçada. Foi um procedimento usando o próprio instinto, pois eu era o que estava melhor, provavelmente pela minha boa condição física. O que está melhor deve ajudar os mais necessitados, e assim eu fiz sem pensar, por um impulso natural.

Passou um carro Austin que gentilmente e ofereceu carona e todos foram levados ao hospital de Pronto Socorro. Ao entrar no hospital, depois de eu retirar o sangue que escorria em mim, mas que na realidade era em quantidade maior dos demais feridos, fui medicado com pequenas escoriações e um corte no lábio superior, que não necessitou levar pontos, e fui liberado, mas os demais acidentados ficaram hospitalizados.

Então voltei ao local do acidente, estavam os policiais, fazendo a ocorrência, me identifiquei como sendo o proprietário do gordini, ainda apresentado esparadrapos na cara e sujo de sangue e perguntei se eu poderia retirar as coisas pessoais do carro, alegando que poderiam ser roubadas.

O policial entendeu que eu tinha dito que eles iriam me roubar, e meu deu voz de prisão, mesmo eu dizendo que eu me referia as outras pessoas e não eles os policiais, pois não seria tão idiota. Não aceitaram o meu argumento e me levaram para a delegacia na Rua dos Andradas, onde eu deveria ficar preso, um deles me deu um tapa na cabeça, mas o responsável pela delegacia, mais esclarecido, me entendeu e me liberou, viu que eu trabalhava na Olivetti, não era um marginal, não estava bêbado e já estava com o prejuízo do carro.

Eu com a cabeça quente e sofrendo todo o prejuízo, pelo acidente, mais os policiais me humilhando, aflorou o meu lado animal, e se eu ficasse preso injustamente, cheguei a pensar seriamente em me atracar com aqueles policiais e que eu poderiam acabar em desvantagem e até ser morto.

O pai do meu amigo que tinha o fusca era muito bem posicionado financeiramente. Tinha uma mansão na Rua Dom Pedro ll, e um carrão importado Impala, Como eu era muito amigo do seu filho, ele se sensibilizou e queria pagar as despesas do gordini, mas apesar de ser uma ação louvável, não achei justo e não pude aceitá-lo.

O japonês me pediu que eu não falasse para o seu irmão, das despesas referentes ao gordini e que seu irmão estava terminando de lhe pagar a faculdade de veterinária, e não queira onerá-lo mais. Então me prometeu que um ano depois, e após a sua formatura, ele próprio, honraria as despesas, em 10 vezes, Eu concordei, e foi o que realmente aconteceu.

O japonês ficou hospitalizado, mas se recuperou bem. As gurias levaram vários pontos no rosto. Depois de uns quatro anos fui chamado ao trânsito para prestar depoimentos, onde encontrei também os demais acidentados. Foi à finalização do processo.
CUIDADO PARA ENTREGAR O VOLANTE DO SEU CARRO.
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 14/09/2021
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