BRIGAR FORA DO RINGUE NÃO É CORRETO
Quando eu estava iniciando nas luta cênicas no ginásio Ringuedoze, em Porto alegre/RS apareceu um lutador mais antigo, que ficava tirando sarro dos mais novos, era um lutador peso pesado com mais de 100 quilos. É claro que eu com meus 76 quilos, era um dos seus alvos. A última vez ele pegou o dinheiro e documentos meus e os jogou do vestiário em cima do ringue que ficava num plano abaixo. Quando ele chegou ao ringue para treinar, eu já estava com o corpo quente do treino, e quando ele se aproximou de mim e continuou rindo da minha cara e já estava no alcance do meu braço. Não pensei e agi por extinto, dando-lhe um soco que fez com que ele desse uns passos para trás, mas não caiu por ser pesado. Fiquei em alerta, mas ele, não quis revidar. Acabou o problema e fiquei mais respeitado, não que fosse que eu almejava, pois eu sempre respeitei todos os meus colegas e gostaria também ser respeitado da mesma forma e acho que o caminho do diálogo seria a melhor solução. No dia seguinte a nossa desavença, eu entrei no banheiro no final do treino e o meu colega entrou junto, e fechou a porta por dentro, e quis-me intimidar. Olhou bem sério, mas mantendo uma distância segura, e me convidou para fazermos uma luta fora da Academia. Eu também lhe olhei mais sério ainda, e lhe disse que esta não seria a forma de eu lutar com alguém, não é para mostrar quem é o mais macho, eu briguei porque estava sendo molestado, e se tu me molestares poderemos lutar aqui mesmo. Mas no fim acabamos ficando amigos e lutamos algumas vezes nos ringues sem nenhum problema. Eu estava com o meu gordini cheio de mulheres da Olivetti, pois lá trabalhavam muito mais mulheres do que homens. Nossa direção era uma festa que envolvia funcionários da Olivetti. Ao passar pela Rua Oscar Pereira, um táxi me deu uma fechada. Bem essa não era para brigar e sim seguir o meu caminho. Coisa feia. Acho que foi para me mostrar para as gurias e eu também estava na minha melhor fase como lutador. O Táxi parou logo adiante, e pensei que o motorista queria me provocar, mas ele realmente teria que parar ali para comprar pão. Então parei com o Gordini no lado, desci meio furioso e fui querendo dialogar quando cheguei próximo, levei um pontapé, que ao me esquivar, só me sujou com a sola do sapato, a minha calça. Nesse caso não teve mais diálogo, e saí com uma seqüência de socos, e não dando lhe a menor chance de lutar, mas sim de se auto defender até cair no chão, quase em baixo do seu carro. De repente eu olho para os lados e vinham mais táxis e todos estavam parando, e seria claro que eles iriam defender o seu colega. Eu pensei: pois sou o Scaramouche, se eu ficar aqui vou levar a pior, e muitos taxistas estão também armados por força do seu trabalho. Subi no meu Gordini e fui cumprir com a minha missão. Essa eu poderia ter evitado. Tivemos uma noitada de lutas em General Câmara, ao sairmos todos os lutadores subiram no micro para o regresso. Mas antes do motorista dar a partida, ficou um cara vestido com uma blusa de malha enchendo o nosso saco com palavras ofensivas, junto a alguns outros, e desafiando os lutadores para brigar. Quando o motorista ligou o motor do micro, e lhe falei, espere só um pouquinho que eu tenho que sair um pouco do micro, mas já volto, mas não desligue a micro. Saí sozinho porque os demais não queriam se meter em broncas. E fui direito no cara de blusa de malha, que era o que mais estava nos desafiando, mas cheguei de mansinho como se não quisesse puxar briga, mas de surpresa puxei a sua blusa por cima do corpo impedindo sua visão e apliquei-lhe um certeiro golpe próprio de Scaramouche, e voltei para o micro e disse para o motorista: Missão cumprida! Vamos embora, e saímos antes do cara se desvencilhar da blusa enroscada. Poderíamos ter ido embora sem levar em conta as ofensas, mas a gente pode ou não ser ofendido, depende da nossa mente. A minha mente estava despreparada naquele momento. Quando eu ia ao trabalho na Olivetti do Brasil, passava pela Borges de Medeiros, onde havia algumas lojas com discos. Um assaltante ao passar por uma das lojas roubou alguns discos e saiu correndo pela Borges, e as gurias gritando pega o ladrão. O azarado veio justamente ao encontro do Scaramouche me deu um esbarrão, e ficou numa posição muito própria e aproveitei para lhe aplicar uma gravata em pé, e apertei bem ele contra o peito. Que ficou quietinho foi um HADAKA JIME “gravata” bem aplicada, o cara tem que ficar imóvel, senão dói bastante. Não demorou muito apareceu um policial que lhe deu voz de prisão e ficou com o ladrão. E o herói aqui depois verificou que o aperto foi tão grande que quebrou os óculos que estavam no bolso da camisa, em mil pedaços. Bem nesse caso foi uma ação de uma tendência natural, usado para o bem comum. Como eu vivi uma enorme vida envolvendo lutas, tive que contar algumas estórias lembradas, para ilustrar, mas é bom deixar claro que as brigas e desavenças, não fazem mais parte de mim. São coisas do passado, onde me faltava uma melhor preparação para os verdadeiros ensinos existidos nas artes marciais, mas que levam um tempo para o seu aprendizado. Ouvir opiniões contrárias a nossa, interrompe a espiral da discórdia, e é uma forma de melhor se entender. Sempre procurei ensinar aos meus alunos, que lutar é somente dentro dos ringues, e para lá que devemos canalizar as nossas técnicas. Não procurava só ensinar, mas procurava fazer com que o aluno se interessasse em aprender. Seria uma idiotice querer aproveitar-se para bater em alguém, podendo se lastimar e prejudicar o desempenho técnico nos combates com os seus adversários. Teve um boxeador americano famoso que agrediu um desafeto e depois passou um período no presídio. Valeu a pena? Estes exemplos, não são exemplos que devo me orgulhar.