ACONTECIDOS NA OLIVETTI


 
Numa tarde estávamos fazendo o lanche e ouvimos uma batida de carros na frente do prédio. Um funcionário do setor de máquinas que estava junto com a nossa turma, gritou: Oba uma batida de carro bem na frente do nosso prédio, vamos ver, e saiu correndo em direção a janela, e ao se debruçar para ver o espetáculo. Então o ouvimos com a cara mais triste do mundo falar assim: Pôoo, logo no meu carro.

Eu sempre gostei e ainda gosto de passar mel no pão que consumo. Por isso eu sempre deixava o meu potinho de mel na geladeira do bar da empresa, mas sempre tinha alguém que me filava o meu mel. Eu até não me importava, mas um dia resolvi pregar uma peça no meu companheiro. Eu usava um tipo de goma arábica, que era muito parecida com mel. Então peguei o meu potinho, retirei o mel nele existente, e coloquei a goma arábica dentro. Esperei até o meu companheiro chegar e já estava com o mel verdadeiro no meu pão. O meu companheiro de empresa e do mel chegou. Posso usar do teu mel: com certeza, faça bom uso. Ele passou em seu pão com todo o esmero, e eu me segurando para não rir. Depois colocou o pão na boca, mastigou bem, e quando quis degustar, começou a ficar com a cara feia. Eu os demais amigos previamente avisado começamos a rir, antes que ele engolisse a goma arábica e colasse as tripas. Nunca mais ele quis se aproveitar do meu mel.

Tem coisas que a gente só fica sabendo, quando a bronca está para estourar, ou quando estoura de vez. O gerente geral foi passar umas férias na Itália, até aí tudo bem, um gerente geral que falava Italiano, Teve um ótimo presente em suas férias, até pelo seu grande esforço para que a Olivetti avançasse com as suas pretensões, e “também a suas próprias”.

Em seguida após o gerente ter ido, chegaram os auditores de São Paulo, pois já havia sido combinada a saída do gerente, com a intervenção da Matriz. Todos os funcionários e gerentes foram chamados para esclarecimentos, e claro eu também estava nessa chamada misteriosa. Além dos diversos interrogatórios, os auditores, me perguntarão se era verdade que o gerente comprava produtos importados e eu como caixa era que os pagava. Sim. Era eu que os pagava, pois o gerente ao me solicitar o pagamento, dizia que eram presente dados a compradores, e que não podia ser contabilizado na condição normal, e eu deveria providenciar algum tipo de conserto, fazendo um documento de caixa das despesas que ele assinaria. Eu apenas obedecia aos mandos do gerente, e sempre arrumava uma parede para consertar, o bebedouro, que estragava “seguido”. Ele dava o visto, e eu lhe entregava o dinheiro para ele pagar os contrabandistas de plantão. Os auditores acreditaram nas sinceridades das perguntas. E eu não tive nenhum tipo de problemas.

Sem saber o porquê, mas havia denuncias de corrupção, com gerente junto com pessoas ligadas a venda de máquinas.

Resumindo, foram demitidos o gerente geral, os chefes de vendas e outros chefes de setores, Sobrando apenas dois incluindo eu, que na época era o caixa geral. Foi uma das maiores limpas feitos em uma empresa privada. TEMOS QUE CONFIAR NAS PESSOAS CERTAS.

O Gerente geral, este demitido, não batia muito bem. Uma vez sacou do seu revólver, que habitualmente ostentava, e deu tiro no relógio ponto, porque ele não estava funcionando bem. Acabou funcionando, com a marca do projétil nele estampada.

Um dia ele ia subindo no elevador, e uma mulher passou pela sua frente no edifício. A maioria das pessoas quando lotava o elevador, trabalhavam de fato na Olivetti. Então o gerente que ficou bravo, falou para o chefe do departamento de pessoal: coloca esta funcionária na rua imediatamente: mas gerente. Ela não é funcionária da nossa empresa. Mas então admita e depois a demita. Ele era uma figura, mas todos tinham medo quando ele aparecia.

Eu me encontrava com um colega que fazia musculação, e queria jogar uma queda de braço comigo. Era o horário de expediente, mas seria uma coisa rápida, mas jamais seria aceita por um gerente exigente. Quando estávamos concentrados, sem saber quem iria vencer, fazendo aquela força, aparece o terrível gerente, e ficou no nosso lado olhando, e nós o que vamos fazer terminar rapidamente com o nosso jogo, ou continuar, foi quando o gerente falou quem vencer, vai ter que jogar comigo. Bem não sei se o cara, vendo o gerente, foi perdendo as forças, e eu consegui a vitória.

O gerente fez um aquecimento, se posicionou, demonstrou ser bom como desafiante. Então eu pensei o gerente é mais leve do que eu. Estou treinado, e ele não sabe. Acho que vou ganhar, mas não será melhor perder para puxar o saco e me sair bem daquela enrascada. Qual será a sua reação. Querem saber de uma coisa competição é competição, e tem que vencer o melhor. Entortei o braço dele fiz pressão contra a mesa e segurei um pouco, mostrando, pelo menos naquele momento quem era o mais forte. Ele: Tu és muito forte. E saiu com a mesma cara séria de sempre. Foi um ótimo remédio, pois eu nunca tive problemas com a gerencia dele. SE FOR COMPETIR PENSE EM VENCER.

Quem tinha muita bronca do gerente, era o encarregado de cuidar do barzinho da empresa. Ele era o que servia os cafés, água mineral e chás para nós inclusive o gerente. Uma vez conversando com ele, que estava com os cornos azedos, por ser tratado de uma forma discriminada pelo gerente, me disse: O cara enche os peitos para falar com os outros e comigo, mas já tomou da minha urina. O que? Não entendi bem: Já urinei na água mineral que levo para ele tomar. Só na dele? É sim e o único que merece. Ás vezes os que estão de posse do poder, esquecem de que até uma pessoa por mais simples que seja, podem se revoltar e mostrar que também têm as suas formas de poder. TODOS DEVEM SER TRATADOS COM EQUIDADE.

MEU DIA DE HEROI. A Olivetti ficava no décimo segundo andar do Edifício Comendador Azevedo, na Rua Uruguai. Um dia chovia muito e com um vendaval e raios, parecia o fim do mundo. Numa das salas onde trabalhavam várias mulheres, que estavam com medo da janela, apesar de estar fechada, balançava com muita violência.

Chamaram-me para ver, pois eu era considerado o salvador no meio das mulheradas. Entrei na sala e olhei aquela janela grande demais balançando, acabei concordando com elas acho que vai abaixo, então como faziam os heróis dos filmes, me atraquei na janela com os dois braços abertos com o intuito de não a deixa-la cair.

Mas não deu outra. A janela foi arrancada inteira sobre mim, e aí bateu o medo no herói. Parecia um herói sendo atacado por um mostro disfarçado de janela. Com o impacto fui parar no meio da sala numa queda de costas, mas sem largar o agressor que era a pesada janela que caiu por cima de mim, como se estivesse querendo me amassar contra o piso. Mas segurei com forças extremas. O temporal que era de verão diminuiu, a seguir a mulheres retiraram a janela de cima de mim, mandaram me sentar e vieram me abanar. Eu estava inteiro. Até parecia uma tomada de filme onde os heróis nunca morrem.

No inverno as mulheres, sempre elas com frio, mantinham alguns liquinhos a gás como aquecedores. Um dos aquecedores achou que estava com muito frio, e resolveu bagunçar com labaredas altíssimas. Como já era de esperar, as mulheres saíram correndo apavoradas e gritando. “Mulher grita bem mais do que os homens” Uma falou: vai explodir. Ficou a sala vazia, e mais uma vez é hora do Scaramouche atuar. Como eu já tinha aprendido que num caso como esses, o fogo vai saindo até se esgotar o gás. Então foi fácil, fui rastejando até o controle da válvula do gás, e o fechei e o fogo se apagou na hora. Aí avisei para a turma: O incêndio acabou podem voltar dos esconderijos. Apareceram mulheres de todos os cantos, umas tinham fugidos para o corredor do edifício. Estavam todas salvas. Alías mesmo o fogo tendo continuado não haveria problemas maiores, pois o fogo iria se extinguir quando terminasse o gás.

Quando eu estava saindo da empresa, um colega da parte da oficina me chamou e queria fazer algumas perguntas. Ele falou, falou e perguntou, mas o papo parecia sem nexo, mas depois disse deixa assim mesmo obrigado peã atenção e se despediu.

Saí, passei pelos elevadores, pelo andar térreo cheio de gente, fui até a rua e quando estava atravessando, foi àquela risada dos funcionários nas janelas. Se dirigindo a mim, Onde está o teu cavalo, cuida para não feri-lo com as tuas esporas. Olhei nos meus sapatos, estava com duas esporas, acopladas, feitas artesanalmente e coladas no momento em que eu fui conversado pelo cúmplice. Essas vocês me pegaram.

Eu estava descontente com o excesso de trabalho, apesar dos grandes amigos feitos através do quadro de colegas eu sempre dizia que iria me despedir, e que iria para Massachusetts, é uma cidade americana, e era para lá que eu iria me mandar, pois sair da Olivetti era para ir num lugar distante e com um nome interessante. Mas foi só uma fantasia, apenas um nome que me veio à cabeça, e que não se consumou, mas era o que eu sempre dizia, quando alguém me perguntava para onde eu iria de saísse da Olivetti, minha resposta sempre foi à mesma, vou para Massachusetts. Na realidade fui para Lima no Peru e depois para o México.

Eu iria sentir muito a falta dos colegas, os amigos deixados e a boa convivência com todos. Tive influência em colocar dois irmãos na Olivetti, o Walter, que também se demitiu, e o Odilon, que trabalhou lá até se aposentar. NOTA: Ambos irmãos falecidos, um mais novo e o outro da minha idade. Estou com 78 anos.

Para me complicar adquiri uma úlcera bulbar de face, no duodeno. O próprio médico indicado pela empresa me tratou, e falou-me de que o excesso de serviço era o meu maior vilão. Aquilo caiu para mim como uma bomba, pois como eu era uma pessoa que tive uma infância muito doente, e mesmo estando com uma saúde bem melhorada pelos treinamentos com ginástica olímpica e halterofilismo.

Tive uma surpresa, quando eu estava recebendo uma duplicata no caixa. Reconheci o pagante, que era um juiz de luta livre cênica das luta transmitida pela TV. Ao conversar um pouco, ele que ficou sabendo que eu era halterofilista e tinha noções de lutas e praticava Ginástica Olímpica, na Sogipa, resolveu convidar-me para fazer um teste como lutador na academia que ele atuava e tinha certa influencia. Foi o início do surgimento de um lutador, chamado Scaramouche, conhecido do público pelas lutas televisionadas de 1965 até 1970.

Não só aceitei como procurei treinar com vontade, contando, com os treinos de ginástica olímpica e alguns conhecimentos de judô. Para atuar na TV eu teria de lutar de máscara, pois o contrato que eu tinha assinado com a Olivetti, não permitia que eu tivesse outro contrato profissional. Então eu tive que lutar mascarado para esconder a minha identidade.


O fato de ter me tornado lutador, teve muito peso na minha decisão que contou também como atenuante, a úlcera duodenal, para a minha decisão de demitir-me.

Com seis anos de muito trabalho com dedicação e pontualidade, não lembro de ter faltado o serviço. Na minha função como gerente de setor, o gerente geral teve de enviar a matriz a minha decisão, que era irrevogável. Depois dos trâmites legais, vendi o Gordini, e dei todo o dinheiro como entrada para aquisição de uma casa e o restante abracei um financiamento em 12 parcelas.

Ganhei a minha liberdade, como desempregado, solteiro e sem o carro, caí no mundo como lutador, e com viagens constantes, usando o pseudônimo Scaramouche.

Scaramouche é um romance francês, de Roberto Sabatini. Tratava de um espadachim que era um saltimbanco. Onde levava seus shows, empregava de acrobacias e saltos mortais nos seus espetáculos. Acabou descobrindo que era filho de um rei que havia sido destronado, por inimigos. Scaramouche “do romance” passa a ser um ágil, espadachim onde lutava com os seus algozes e dava shows de saltos mortais durante a suas atuações.

Eu usava este pseudônimo como lutador, pois agia da mesma forma, descrita pelo romancista, dando os saltos mortais, nos meus shows de lutas cênicas. Era considerado um Higt Flyer. Um Lutador que voava sobre os ringues.

“QUANDO NÃO ESTIVER CONTENTE ONDE TRABALHE, PARTA PARA OUTRA E SEJA FELIZ”
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 14/09/2021
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