Autoria da foto: Mercede Pilati

          DONA SAUDADE
 
          Se sentimos saudades de alguma coisa é porque aquilo foi bom e útil para nós. Se de alguém, porque esta pessoa foi importante na nossa vida. A saudade não se explica, assim como o amor não tem explicação. Essa é muitas vezes amarga como fel e absinto, mas outras, doce como o mel no destilar dos favos.
          Pedi para um poeta descrever a saudade. Ele respondeu que a dona saudade não tem jeito. Disse que costuma cavalgar no seu lombo, que anda de carona com ela e flutua nas suas asas. Falou também que é algo gostoso mas que dói dentro de nós, mas o mais estranho que possa parecer é que quanto mais dói, mais queremos lembrar.
          Ninguém sente saudade de algo ruim e desagradável que lhe tenha acontecido. Neste caso, gostaríamos de esquecer o que é impossível. Acontecimentos que marcaram de forma negativa não vale a pena estar lembrando e voltando ao sofrimento.
          A dona saudade nos acompanha. Saudades da infância, dos pais, dos avós, das brincadeiras da época em que éramos felizes e não sabíamos. E assim como diz o poeta, até que mudemos para a nossa última morada, temos a companhia desta que nos inspira entre lágrimas chamada saudade.
 
(Christiano Nunes)
 
Inverno / 2021