Festa de setembro* (13/09/2021)
Nem bem adentrei à antiga “Rua Grande” de meus pais, pude ver os parques de diversões que se instalavam ali, por costume; e, que hoje, seduz, também, as ruas adjacentes. É quando castelos se erguem bem no coração da cidade/mãe, materializando a alegria. O cenatório é de um grandioso sonho. Geringonças que se amontoam sob a jura do melhor divertimento.
Maçã do amor; cachorro-quente; algodão-doce; balões in-fláveis; barraca de tiros; jogos de azar; o sino da igreja; as novenas; a procissão... - Ela ainda estava lá. Não diria, acanhada; resignada, sim! Mas, talvez eu que estivesse diferente.
Demoro-me no carrossel. Conservaria ainda a mesma má-gica? E procurei, em cada menino que volteava ao redor do mundo, os rostos de minha infância: O “Parque Lima” era o playground de antigamente. Bichinhos artesanalmente construídos com o madeiro sagrado das idades puerícias. E aqueles cavalinhos, que nem existem mais, levavam-nos para qualquer lugar, mesmo que fincados no eixo da resignação.
Ainda, reminiscente, resgato da memória, o aviãozinho de latão... - Que sem luzes nem nada, conduzia-nos para fora da órbita, numa viagem imaginária. E, por fim, a roda-gigante, meio acanhada, é bem verdade, - mas que nos colocava acima das casas e isso bastava para entrever o futuro.
Os brinquedos estão ficando mais modernos, e as crianças menos crianças.
Despertei daquela nostalgia com os acordes da filarmônica 26 de julho. E antes de entrar na igreja de Nossa Senhora da Guia, parei para ouvir a banda tocar... - Como uma "retreta" de tudo que já foi dito. De 14 a 24 de todos os setembros, a “Festa da Guia”, acolhe os devotos das paróquias vizinhas, que acorrem às suas preces para a igreja Matriz, Catedral dos filhos de Deus.
Ao final de cada noite, onde as novenas são oferecidas à comunidade na forma da eucaristia, todos retornam para as suas casas, porém, sem deixar de notar o pavilhão e os bancos de azar. O religioso e o profano coexistem naquele ambiente: ora lúdico; ora litúrgico... - E as jogatinas se espalham pelo corredor desmedido, conservando as tradições.
Aprendi com o escritor de “A Bagaceira” que “Ninguém se perde no caminho da volta”. E Jose Américo de Almeida, justifica: “porque voltar é uma forma de renascer”.
A festa de setembro é também de renovação não apenas espiritual, mas social. Compatrícios elegem no calendário anual aquela data na vida deles. E retornam para os parentes e amigos, pautados na certeza do abraço e da fé. Ah! Festa de felicidade circular... - Feito esse brinquedo que agora vejo a encorajar os beijos adolescentes dos filhos e netos de minha geração.
Já estou quase do outro lado... - E o que já era um retrato esmaecido, vai ficando ainda mais no passado. Porém, o que seria de nós se não fosse o renovamento? Obrigado, festa de setembro! Se antes faltava coragem de olhar para trás, agora estou mais confiante por seguir em frente...