MAIS DO QUE NECESSITAMOS
Eu nasci em 1943, morava bem longe, ao lado de uma olaria, na cidade de Carazinho/RS. Na minha época tudo era na medida mais correta, mais certa. A sociedade de consumo, ainda não tinha vez. As pessoas mais abastadas tinham casas melhores, mas não mansões, eram grandes casas bem construída, mas eram poucos os que as possuíam. O que as pessoas tinham de uma forma mais exagerada, eram as muitas terras, que antigamente, não valiam muito. Eu me lembro de quando eu era um garotinho lá pelos anos de 1950, em que ter um par de tamancos, uma alpargata, mas sapato eu não lembro de tê-lo. A gente gostava do que tinha, ao contrário de hoje que a gente tem dezenas de formas de calçar os pés, e parece que não gosta de nenhum. Eu mesmo gostava tanto do meu tamanco, que um dia a minha mãe me pediu para buscar algo na casa do vizinho. Era quase escuro e eu estava sentado próximo à mesa e eu não queria ir com os meus tamancos novos para não sujar. Mas quando minha falou mais alto: Se o Neri não for agora ao vizinho, vai ter que ir ao escuro. Ai então eu levantei rapidinho, pois temia a escuridão da noite, ainda mais para fora onde uma casa era longa da outra, e fui cumprir com os mandos da minha mãe. Mas era o suficiente, e a gente não reclamava e porque ter mais do que isso? Era o que a gente tinha. Faltava algum tipo de conforto, é claro, mas a vida continuava, e faltavam coisas, muitas coisas que hoje as temos, mas ainda continuamos reclamando. O tempo passou, passou, e então chegamos ao ano de 2021 quando eu completei meus 78 anos bem vividos. E aí vem o outro lado, onde nós temos muito mais conforto, mas chegamos ao esbanjamento, os excessos desenfreados. Não sei até onde vamos chegar, apesar de termos ouvidos apelos a respeito, e de pessoas que já tenham consciência dos lixos jogados ao mundo. Temos também em mente de que o querer ter mais eleva o número de violência e corrupção. Quando eu falo em excessos gosto de ter um exemplo próprio para ilustrar. Num dia frio de Julho, do ano de 2010, eu resolvi apanhar os sapatos na sapateira “hoje temos até sapateira” para levá-los ao sol a fim de tirar o excesso de mofos. Na minha sapateira, aliás, eu nem tenho sapateira, apanhei três chinelos, duas botas, uma sandália uns quatro sapatos. Fiquei pensando, mas eu tenho todas essas opções para calçar os meus pés? São dez tipos de calçados, todos só para mim. Na realidade, eram poucos pares, pois eu tenho certeza que a maioria, tem um número muito superior a isso. A seguir fui à sapateira da minha mulher, pois é ela tem sim sapateira, e recolhi em números redondos, cinqüenta pares de digamos assim sandálias sapatos e etc e etc. E tem gente com muito mais. E aí tem uma explicação por tendência e cultura, á mulher tem que ter sempre mais do que o homem, isso no sentido FASHION, apesar de que a mulher em regra geral ganha menos do que os homens. Eu também apesar de ter um menor número de bagulhos, também tenho mais do que preciso, mas já estou pensando em me desfazer do que não preciso, e até de algumas coisas que talvez eu possa precisar. Vivemos com a casa cheia de tantas coisas, que mal temos o nosso próprio espaço. Que vontade eu tenho de mudar-me e não levar nada, ficar somente com o necessário, e nós não precisamos mais do que o necessário, já que a maioria das coisas fica mais atrapalhando, do que nos servindo e temos que fazer um trajeto especial ao deslocarmos dentro de casa, para não colidir com o que angariamos durante a vida. Se não houvesse as doações, eu seria impedido de entrar em casa, porque faltaria espaço físico para a minha pessoa. As nossas casas precisam ser curadas das tralhas. Se vivermos em um ambiente pesado, nossas vidas se tornam também pesadas, e isso reflete em nosso comportamento e que se estende as nossas amizades. É bom termos uma casa com mais espaço para nós mesmos onde possamos nos sentir mais a vontade, mais livre e mais leve. Mas vale a pena as pessoas pensarem sobre o controle dos excessos, e ajudar o mundo a ficar melhor. Ou vamos entupir o mundo com lixo. Eu li nos meus livrinhos, sobre um milionário Austríaco, que entregou suas posses materiais para ajudar os outros e a si próprio. “A riqueza não traz a felicidade”. Trabalhei durante 25 anos como escravos, para adquirir coisas que não precisava e não queria. As Sociedades de consumo nos falam para comprar coisas para o nosso bem star, mas não para nos deixar felizes, e assim compramos mais e ficamos bem mais fácil do consumo nos controlar. Acabamos trabalhando para o futuro, sem saber se ele vem, e deixamos o presente, quando estamos jovens sem viver o suficiente. Quando falamos em riquezas, também temos que falar sobre a pobreza total, e a indolência, que são outros males que nos tornam infeliz. Pobre, é aquele que sempre diz que não tem o suficiente, e é rico, Rico é aquele que se intitula ter mais do que precisa, mas é pobre. Eu estou aprendendo a controlar meus excessos, mas ainda tenho que aprender mais, pois ainda tenho muito lixo. “Sempre nós estamos aprendendo” e existem algumas coisas que nós temos que acompanhar a tendência do mundo e não podemos escapar por enquanto. Sou proprietário do meu carro há 20 anos. Ele nasceu no ano de 1996, e pretendo usá-lo ainda por um longo tempo, não há necessidade de seguro, as possibilidades de assaltos são diminutas, a preocupação é infinitamente menor, e ele pode me levar onde que eu quiser. Eu não tenho pena dele, acho até que ele é que tem pena de mim. Parece um casamento, mas se for um casamento feliz com o que tenho com a minha mulher há 40 anos está valendo a pena. Acho justo à pessoa se dar bem no quesito de ganhar a sua vida, de vencer, de gerar empregos e colaborar com o crescimento do mundo.
“NÓS TEMOS MAIS DO QUE NECESSITAMOS, MAS PRECISAMOS SER MAIS DO QUE SOMOS”
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 13/09/2021
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