POLICIAL NÃO É HERÓI
Pra começar, nenhum servidor público trabalha de graça.
Claudio Chaves
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EMBORA, obviamente, não se trate de um entendimento literal (mas uma forma simbólica de destacar a importância da função), a cultura populista brasileira de atribuir heroísmo a ações rotineiras de servidores públicos como policiais militares (quer das Forças Armadas quer das Polícias Estaduais), médicos, enfermeiros, professores, garis, guardas, juízes, promotores, etc é uma atitude alienante que destorce [ainda mais] a já equivocada compreensão da sociedade sobre servidores e serviços públicos. O prejuízo social de tal comportamento é demasiadamente elevado.
EVIDENTEMENTE, todo servidor público (militar ou civil) é um trabalhador especial – não porque seja melhor ou pior, mais o menos em quaisquer aspectos em relação ao trabalhador da inciativa privada. Simplesmente sem Estado não existe sociedade moderna, e sem servidor público não existe Estado. Mesmo pessoas que não trabalham no nem dependem preponderantemente do serviço público jamais conseguiriam ter suas demandas básicas atendidas na sociedade sem os serviços e os servidores públicos. Nem por isso, somos heróis.
PRA começo de conversa, não trabalhamos voluntariamente – apesar que em muitos casos é quase isso que acontece. A sociedade, através do Estado, nos contrata e nos remunera pra isso. Desempenhar, zelosa e eficientemente, nossas atribuições é, portanto, cumprimento de dever – não é, repetindo, favor, heroísmo ou qualquer ação missionária.
TODA função laboral implica em riscos e outros ônus inerentes à própria atividade, independentemente do vínculo (se público ou privado) ou do espectro social (se militar ou civil). E é por isso que existem as especificações de cada uma. Especificações estas que começam com a habilitação profissional e se estende ao regime de aposentadoria, passando pela forma de ingresso, formação continuada, carga horária, remuneração, instrumentos de trabalho, entre outras.
O QUE não apenas policiais militares, mas todos os servidores públicos – especialmente aqueles que exercem funções mais subalternas – mais precisam não é de rótulos e clichês (como “heróis”, “salvadores da pátria”, “mitos”, “vagabundos”, “parasitas”, “corruptos”, “preguiçosos”...), mas de tratamento respeitoso, justo e ético por parte do Estado, e reconhecimento, compreensão, fiscalização e confiança por parte da sociedade. Isso, porém, não se consegue por osmose, por decreto ou por simples obra do acaso; é uma construção e, como tudo na vida, tem preço – e não é barato!
APENAS elogiar quando acerta e xingar quando erra – seja policial ou qualquer outro agente do Estado – certamente ora inflará egos e ora comprometerá reputações, mas jamais fará com que tenhamos os melhores, mais eficazes e mais éticos servidores e serviços públicos. Esbarraremos sempre na tal indignação efêmera e sazonal.
PRECISAMOS de um novo contrato social (entre contratados – os que servem – e contratantes – os que são servidos). E este terá que ser mais amplo, mais plural, mais justo, mais ético, mais transparente e mais sustentável, para que seja mais eficaz e mais duradouro do que o atual.
NOTA:
Essa tarefa é de todos os brasileiros; e não é pra amanhã!