SÃO PAULO: A METRÓPOLE DOS SONHOS
Pretendo, através deste artigo/crônica, oferecer ao leitor uma visão mais ou menos crítica da realista situação dos nordestinos que migram para o Centro-Sul, especialmente São Paulo, que é, como se sabe, o estado mais rico e mais industrializado do Brasil; e que por este motivo tornou-se, evidentemente, um importante centro de atração populacional. Quero, também, enfatizar alguns dos problemas que caracterizam a capital paulista, maior cidade do país, bem como alguns dos seus patrimônios.
Na verdade, atingir a maior idade, isto é, passar a ser “de maior” ou maior de idade e mudar-se para o “Sul Maravilha”, particularmente São Paulo, ainda é um sonho incutido da cabeça de muitos indivíduos do interior do Nordeste, pensando em melhorar de vida naquela região. O certo é que apenas uma pequena minoria consegue realmente o seu intento, ou seja, melhorar de vida e ocupar uma posição social mais ou menos privilegiada, com base no seu poder aquisitivo. Por outro lado, a grande maioria vive amontoada em favelas, onde as condições ambientais e higiênicas são precárias e inadequadas à saúde.
Cumpre destacar que ao chegar a São Paulo, muitos desses nordestinos, na maioria modestos cidadão, ficam perplexos ali diante da grandiosidade e da intensa agitação daquela estonteante e gigantesca metrópole impregnada de arranha-céus, sendo considerada uma verdadeira selva de pedra. E ficam, portanto, a recordar com nostalgia a quietude das plagas pacatas e serenas de onde um dia partiram, muito embora as injustiças sociais ou as adversidades das secas que eclodem os tenham afugentado de sua terra natal.
Percebe-se diariamente um barulho ensurdecedor de fábricas, de veículos e pedestres num vaivém incessante; e meninos pingentes agarrados e pendurados em ônibus urbanos e em trens em disparada; são coisas de cidade grande. São coisas de metrópole. É o progresso! E o ser humano individualmente se sente minúsculo diante daquela imensidão urbana. A consciência dos povos foi despertada para ambição de progresso em todos os sentidos, objetivando o lucro, a obtenção de recursos e riqueza cada vez mais significativos. E, consequentemente, as zonas urbanas estão cada vez mais se expandindo paralelamente aos seus graves e múltiplos problemas, enquanto o campo vai gradativamente se esvaziando. É impressionante como crescem as cidades!
A maioria dos migrantes nordestinos é composta de trabalhadores desqualificados, empregados nos setores da economia que geralmente oferecem as piores remunerações. Muitos deles se submetem aos mais árduos serviços, vendendo sua força de trabalho não qualificada em troca de um baixo salário, constituindo-se numa mão-de-obra barata; já outros, infelizmente, enveredam noutro caminho...
Cumpre também destacar que em meio ao desemprego que impera, o nordestino, quando consegue encontrar um emprego, sente-se um pouco mais contente, mesmo sabendo que as ordens inexoráveis do patrão, ambicioso e ávido por mais-valia, chegam-lhe como palavras contundentes de um verdadeiro ditador, alegando constantemente o pagamento de um misero salário; e, ainda por cima, coibindo, na maioria das vezes, qualquer gesto de manifestação, protesto ou reivindicação por parte da classe trabalhadora. Isso é próprio da sociedade capitalista, onde a classe dominante, ou burguesia, dona dos meios de produção, visando lucros exorbitantes, explora a classe operária, proletária, ou assalariada, que vende a sua força de trabalho em troca de um salário.
Raros são os momentos de lazer para aquele nordestino pobre que reside em São Paulo; e para aqueles que apreciam também o futebol, deve-se citar suas esporádicas idas a algum estádio para assistir a um jogo; outros, mais raramente ainda, deslocam-se ao litoral paulista; Já a grande maioria, busca se concentrar nos bares da cidade. E ali, saudosos da terra natal, tentam encontrar alguma forma de entretenimento.
Como se pode observar, a grande maioria das principais multinacionais que atuam no país encontra-se no estado de São Paulo. Entretanto, a crise econômica que o país atravessa acentua e agrava a onda do desemprego, em detrimento da classe operária. Por isso, milhares de nordestinos, expulsos do mercado de trabalho em contração, deixam diariamente São Paulo para retornar aos estados de origem. Aqueles que insistem em permanecer naquele estado acabam encontrando, geralmente, algum tipo de emprego, seja nas fábricas, na agricultura, nas construções civis ou no Ceasa/CEAGESP, maior centro atacadista de hortifrutigranjeiros do país.
Mas “o sertanejo é antes de tudo um forte”, já dizia o escritor Euclides da Cunha. E defendo aqui a ideia de que o sol causticante do sertão é menos prejudicial que o ar escuro e poluído de um grande centro urbano-industrial, onde a situação torna-se cada vez mais caótica. Mas, na verdade, o cidadão de boa índole, honesto e trabalhador, é capaz de sobreviver em qualquer lugar habitado.
Na realidade, os problemas são inúmeros, e muitos indivíduos na capital bandeirante, assim como também em centenas de outras cidades brasileiras, não dispõem sequer de um abrigo, de um lar, e dormem ao relento; como é o caso, por exemplo, dos menores abandonados. E os moradores de rua, em geral. E a violência vem se expandindo demasiadamente pelos centros urbanos do país. Esse é um fato extremamente lamentável.
Conclui-se, portanto, que São Paulo, terra da garoa, é na realidade, uma cidade cosmopolita e gigantesca onde vivem e se concentram contingentes populacionais de todas as partes do mundo, e que se transformou a partir de meados do século passado, no principal e maior reduto de nordestinos fora da região Nordeste, região que tem sido sempre uma região ou área de repulsão populacional. São Paulo é a metrópole dos sonhos...
Picos-PI, 18 de novembro de 1993.
Edimar Luz