Cada poça dessa rua tem um pouco da minha vida
Eu vivo em uma busca por métodos, fórmulas e receitas, onde posso vomitar minhas palavras em um papel, com a estrutura pensada, e fazer com que façam sentido para quem lê, além de satisfazer o meu ego de escritor. Depois de muito escrever, percebo que a palavra não tem forma definida, elas entram por um ralo de vivências, traumas e paixões, caem em gotas desiguais, algumas redondas, outras sem elegância, e formam uma poça de ideias, onde para se molhar devemos saltar sem medo, um mergulho a dez metros de altura, quase uma competição olímpica.
Depois de saltar e ganhar um nove e meio, eu cancelo toda a coreografia, e refaço o salto em forma de mais textos, mas que tendem a virar outra modalidade olímpica, porém mais improvisada, quase uma dança sem ritmo, como um corpo que se movimenta por vontade própria.
Sempre questionei quem dava ênfase em ter um corpo que fala por si só, com movimentos aleatórios, mas que pareciam um braço de uma galáxia, com estrelas se formando, supernovas de ideias, e no centro um buraco negro de conhecimento, sedento por adquirir vida.
Depois de três parágrafos tudo parece igual, uma repetição de murmúrios, reclamações superficiais, quase um poço artesiano com dez minutos de vida, que ainda não viveu o suficiente para ser cavado, seja pela erosão da vida, ou por golpes humanos.
No final de tudo, o que sobra é uma poça rasa, mas cheia de vida, com bactérias, tardígrados, fungos, embriões, e planos. Eu pulo de poça em poça, algumas feitas de lágrimas, outras de sonhos, mas todas com um pouco de vida.