Fuja. Ou fique para contar a história

O velho casal Sebastião e Isabel (não à atoa) eram descendentes de escravos e prestavam serviço para uma tradicional família desde sempre. O histórico de trabalho vinha de seus avós.

Bastião era encarregado dos afazeres de jardinagem e afins. Isabel da cozinha e elogiada pela feijoada que era realizada nos sábados de carnaval. Mas a idade e a responsabilidade com as constantes visitas estavam lhe cansando.

E desta vez o ‘patrão’ convidou diversas personalidades políticas da capital do Estado e, juntando-se a elas, as locais: Juiz, promotor, prefeito, delegado de polícia e o vigário. Todos esfomeados pelo prato famoso.

Se foi alguma vingança pela labuta da esposa, não há registro; porém Bastião resolveu agregar um novo tempero na feijoada. No galpão aos fundos onde guardava suas ferramentas de trabalho, amolou com capricho nunca antes feito, uma faca. E com ela cortou em um centímetro quadrado, milimétricamente, as solas de couro de quatro velhos sapatos e pôs de molho por algumas horas com um pouco de sal.

A neta Elenira, com seus 14 para 15 anos, era convocada para essas ocasiões ajudando a avó no preparo e a servir. Foi ela, por sinal, a encarregada de levar o ingrediente que o avô tinha preparado para o acerto final na cozinha.

E antes de Isabel jogar os ‘quadradinhos’, umas quatrocentas gramas, na grande panela, disse à neta:

- Volte pra casa. Eu invento uma desculpa. Ou fique para testemunhar e rir do que esses grã-finos comerão na famosa feijoada da sua avó.