Angela

O homem, Angela, estendeu a mão e nós ficamos atônitos do gesto. Disse-nos que o tempo andava bom, e que nunca mais haveria frio e ninguém disse mais nada. Logo uma criança bateu em nossa porta, indagando se eu me chamava Chico, com ar de desinteresse e partiu. Jamais fiquei sabendo quem seria tal Francisco Carlos, brasileiro, casado, moreno, dois filhos, morador da rua vento do Sol.

Mas, repare, Angela, que nasceram tílias entre esquadrias quebradas do vão próximo da janela. Nasceram sem noção exata da primavera. E foi preciso, Angela, aguardar o tempo passar, justo na casa onde havia um breve rumor de alegria. E a vontade que tive era de dizer qualquer coisa fácil, rápida como o perfume exalado do vestido em movimento.

Consinto, Angela, que meu desejo é de passar as mãos no mar e dançar e mergulhar. Jamais indagar coisa alguma. Agora, diga se é preciso mentir? Quando percebi já era tarde e a dizer que tudo ficou guardado, tudo retido, tudo cancelado do sentimento perdido no tempo passado.