Nunca mais escreverei

As costas curvadas e os ombros caídos entregam o destino da noite, mais uma vez aos prantos e não se sabe o motivo. Se olhar no espelho tem sido difícil, é como se a vida lhe lembrasse de que as coisas saíram dos trilhos, por sua culpa.

O corpo se esvazia, quando foi a última vez que o teu peito se encheu em êxtase? Não se sabe.

Os tremores noturnos são rotina e, quando consegue dormir, sonha com o passado, sem muitas esperanças para um futuro que parece tão longe, tão improvável.

Esteve convicta de que nunca mais iria escrever, os textos não funcionavam mais, os conectivos não estavam ao seu favor, tudo parecia solto no ar, tanto quanto a própria escritora, leve por estar vazia. Talvez tivesse potencial, de fato, alguns escritos enchem os olhos, mas aquela chama se foi, hoje a ânsia pela escrita está embebida em uma ansiedade amarga, nada parece suficiente.

Em seu íntimo escrevia, longas histórias, bilhetes e cartas que nunca foram externados, a falta de coragem lhe sucumbia à hipótese do fracasso. Achava que iria fracassar em tudo o que fizesse e na maioria das vezes, estava correta. Suas mãos estão algemadas pelo medo, estáticas.

O crítico mais duro, é o autor.

Se criticou tanto, que deixou de ver as belezas do mundo, de observar a vida com os olhos de um poeta, de se deixar sentir prazer até mesmo na dor. Foi deixando tudo para amanhã que conseguiu se afastar de seu bem mais amado, a escrita.

Daria tudo para ter a poesia de volta, para sentir a alma formigar em anseio pelo próximo escrito, para entender que a vida não é só uma folha em branco. Roga pela tua fé, para que a inspiração te tome novamente e assim tu possa se dar por satisfeita.

Escreve menina, escreve.

Brenda Nascimento
Enviado por Brenda Nascimento em 07/09/2021
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