A GALOPE

Com o aumento estratosférico no preço dos combustíveis, a situação afetou todas as camadas sociais. Até os ladrões tiveram que se adaptar aos novos tempos. No Ceará, por exemplo, bandidos estão assaltando as vítimas, nas ruas e pontos de ônibus, montados em cavalo. De carro não dá mais. Mesmo que seja veículo roubado eles terão que abastecê-lo e, agora, isso ficou muito difícil. Daí, essa solução à moda antiga, como no Velho Oeste. Fica muito mais em conta. Cavalo não tem tanque de gasolina, não tem placa para ser rastreada e, em última instância, corre para o mato, onde a viatura da polícia não o alcança.

Antes do Ceará, aconteceu em Pernambuco. Uma dupla, de máscara e com a carabina em punho, como manda o novo figurino, assaltou um mercadinho. Até os transeuntes entenderem que aquilo não era brincadeira nem filmagem de novela, os larápios já tinham escapado, a galope, os cascos do cavalo arrancando faíscas na Rua das Pedras.

É...parece que a moda vai pegar. Eu mesmo estou pensando em trocar as quatro rodas por quatro patas. Cansei de pagar – além do combustível caríssimo - licenciamento, IPVA, seguro obrigatório, seguro facultativo, revisões periódicas, estacionamento e ainda enfrentar o trânsito louco com um veículo que já está pedindo para ser substituído.

A ideia é aproveitar o aniversário da minha mulher, no mês que vem, para fazer-lhe uma surpresa. Em vez da troca de carro, que ela já pediu mil vezes, estou pensando em presenteá-la com um ... cavalo novo, com sela e tudo. Prontinho para ser montado. Vai fazer inveja nas amigas quando for ao salão e ao mercado nas asas de Pégaso, agora que as normas de distanciamento estão mais flexíveis.

Mas se minha mulher não aceitar o presente, não vou insistir. Eu fico com ele. E vou montado nele, todo pimpão, no dia de tomar a terceira dose da vacina.

Só uma coisa me deixa na dúvida: não sei ainda como transformar minha garagem num estábulo. Será muito complicado?