Sementes do amor

Ela era uma mulher com uma personalidade tão forte. Tinha uma facilidade imensa em suscitar a raiva alheia. Aonde chegava, despertava receio e tinha o poder de podar palavras. Tudo era motivo para um novo desentendimento. Porém, como uma velha aprendiz da professora empatia, lá estava eu tentando desvendar o lado oculto daquela série de acontecimentos. Quais os pontos nos bastidores a incomodava? Eu não sabia. Quantos desafios ela havia enfrentado durante toda a trajetória? Provavelmente uma conta extensa. Ela carregava muitos traumas em seu interior? Talvez nem ela sabia que precisava de cura. E, infelizmente, no último ano, o câncer chegou em sua vida. Tão triste notícia! Alguns falavam que a doença iria ensiná-la a melhorar o tratamento com outras pessoas, colocando o câncer como uma punição. Não era! Jamais poderia ser! Decepcionados, perceberam que ela havia continuado como antes. O tempo passou e hoje recebi a notícia de que ela havia partido. Meus olhos se encheram de lágrimas e meu coração ficou apertado por pensar em como aquela garotinha tão nova iria continuar a caminhada sem a mãe que ela tanto amava. Diante de um misto de sentimentos, veio um afago. Comecei a me lembrar de todas as vezes que me mantive serena, mesmo tendo a impaciência gritando dentro de mim, após um contato com ela. Não era fácil, mas eu tentava firmar minha mente. Eu pensava: “Preciso fazer a minha parte. Não importa como ela vai me tratar, eu vou ser ainda mais gentil. Mais educada e liberar o máximo de atenção que conseguir.” Eu considerava aquela situação como um treinamento. Por hoje, a você que partiu, meu muito obrigada por ter deixado uma lição comigo: Sou capaz de aprender a semear amor, independente se o terreno for palco de muita dor. Eu apenas preciso me esforçar para isso, preciso insistir!

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