Levando a casa pro trabalho

Quando eu estabeleço para minha vida o mesmo padrão de severidade cotidiana entre o profissional e o pessoal – entre a segunda feira e o sábado, entre o remunerado e o “não remunerado” eu começo a me perder dentro de uma vida pontuada no compromisso e não no prazer de estar, fazer parte ou proporcionar...

A realidade é que nada se afrouxa, pois eu continuo preso em compromissos que deveriam serem vistos como um prazer e não como parte de uma rotina que começa às segundas e não termina nunca... com isso meu relógio não para, meu pensamento não desacelera e minha mente não descansa.

Ver o mundo como um uma interminável lista de supermercado, que eu vou riscando a cada ato realizado... como se risca um pacote de arroz, que muito provavelmente eu vou ter eu comprar na próxima semana... e na outra e na outra...

Então que deveria ser prazer, como o jantar com as pessoas que se ama, os encontros com amigos, o brincar, o ócio, se torna algo tão insonso como chegar ao trabalho na segunda feira... E assim eu vejo o tempo passar sem que eu esteja no meu trabalho, com meus filhos, ou em um jantar... Pois esses lugares foram lugares onde eu “tive que estar, e não onde eu “escolhi” estar.

E a vida vai se tornando algo que eu deveria fazer e não algo a se viver, pois no final eu vou ser sempre visto por tudo o que eu não fiz, eu não estive ou não presenciei, pois, meu corpo até estava lá, mas eu não, pois estava me frustrando e simplesmente batendo o ponto e vendo a vida passar se que eu não estivesse em lugar nenhum – só em algum ponto entre o “ser e o nada”.