Pão de manteiga.

Ainda sob a influência da pandemia.

Caro leitor, lembra da Regina e da Ivani, funcionárias numa padaria na minha crônica 'Sem Papas na Língua'? Pois bem, há dias que por lá eu não aparecia, desde quando, na minha casa, optamos por comer somente o pão de forma integral; e este, meu caro, eu só compro no mercado, porque é onde encontro outros itens da minha preferência além de preços mais baratos, lógico. Agora à tarde, porém, lembrei-me do pãozinho de manteiga macio, gostosíssimo, cobiçado por todos, que eu aprecio de verdade e que só lá, na panificadora onde elas trabalham, tem para vender; detalhe importante, com uma única fornada ao dia, nas primeiras horas da manhã. Eu retornava da farmácia, e ao passar em frente do estabelecimento, decidi parar o carro. Quando cheguei na porta da loja, diante do rol de gente que aguardava o pão francês quentinho sair do forno, percebi que eu era o único sem a máscara, esqueci a minha no carro. Sem querer voltar ao veículo, ou melhor, antes de retornar exclusivamente para resgatar a dita cuja e então ocupar o último lugar na fila, eu, afastado da galera, encostei-me no balcão, que começa no início da loja e forma um L ao fundo, só para perguntar se naquela hora da tarde ainda tinha do pão de manteiga para vender. A Regina, que logo me viu e de longe me saldou, disse, num tom alto, mas sem gritar:

- Seu Hélio, há dias que o senhor não aparece, ao que devemos o prazer da sua visita?

- Regina, querida, o pessoal do telemarketing anda bombando, o do banco, o das operadoras, da internet... todos ligam ao tempo e a hora para me oferecer alguma coisa...

- Desculpe, não entendi o que o senhor quis dizer.

- É que o telemarketing de vocês, parece, é o único que não quer saber de mim, nunca faz convite pra eu vir à loja ou sequer liga para informar que o pão de manteiga acabou de sair quentinho. Por acaso tem dele pra eu levar?

Ela foi a única que riu um sorriso contido, muito por conta da resposta que tinha para me dar, os outros foram menos discretos e gracejaram de verdade, todos, principalmente os consumidores que aguardavam atendimento.

- Seu Hélio, infelizmente já acabou. Só amanha de manhã sairá outra remessa.

- Tudo bem, Regina, ainda não vai ser dessa vez que ficaremos de mal, pode esperar que eu volto.

No fim das contas eu alegrei a turma, mas fui embora desapontado. Não tinha do pão de manteiga, o cesto estava vazio, completamente, ela fez questão de mostrar.

Você ficou com água na boca?

Eu também.

Dilucas
Enviado por Dilucas em 03/09/2021
Reeditado em 07/08/2023
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