Certeza

Havia um certo tipo engraçado de eletricidade nos olhos de Pamela, enquanto ela me olhava, sentada na beira da janela, roendo as unhas, como se estivesse tentando não se afogar de ansiedade.

Ela dizia que me achava bonito. Coisa que eu não ouvia muito por aí. Talvez por isso eu tivesse dificuldade em acreditar.

- Preciso ir embora, mas não tenho coragem. – Ela falou depois que se livrou de mais uma unha arrancada.

- Ainda tá cedo.

- Não estou falando do horário.

- Como assim?

- Preciso ir embora da tua vida, antes que eu me apaixone.

Eu entendia o receio dela. Pamela já tinha tido muitas decepções na vida. Eu também... talvez até mais do que ela. E como dizia o ditado, Gato escaldado tem medo de água fria.

Pra mim era tarde demais pra me preocupar com esse tipo de coisa. Eu já estava completamente apaixonado por ela. Talvez até de uma forma meio idiota. Mas eu tentava fingir uma calma que não existia dentro de mim quando estava perto dela.

- Tudo bem. – Menti... não estava tudo bem. Mas ficaria depois que ela fosse embora e eu pudesse encher a cara até esquecê-la.

- Gosto muito de você. Até demais. Mas um romance não está nos meus planos. Não estou pronta pra esse tipo de intensidade.

- E quem está?

- Você está, por acaso?

- Por você eu até estaria. Ou sei lá. Eu estou envolvido demais pra me preocupar com o que faz sentido ou não.

- Tá vendo? É isso que eu não quero sentir. Quero ter os meus pés no chão sempre.

- É uma opção né? Quem sou eu pra dizer que você está errada?

Pamela se levantou e andou até o banheiro. Depois de alguns minutos voltou com o rosto e os cabelos molhados.

- Você vai ficar com raiva de mim?

- Pra ser sincero. Vou ficar triste, mas não com raiva.

Eu nunca tinha sentido raiva dela, nem nas discussões, nas crises, nos desaparecimentos. Nunca tinha visto má intenção nas ações dela. Mas talvez eu estivesse cego pelo meu nível de envolvimento, ou qualquer coisa parecida.

Ela derramou algumas lágrimas e correu pra me abraçar.

Ficamos abraçados e ela chorou de encontro ao meu peito por alguns minutos. Depois me olhou com toda a calma que tinha lhe faltado alguns instantes atrás.

- E se eu ficasse? – Ela falou enrolando o meu cabelo entre os dedos.

- Não posso dizer que vai dar certo, ou que vai ser fácil. Mas mais difícil ia ser olhar pra o meu armário e não ver suas coisas lá.

Pamela sorriu, se afastou um pouco e me olhou com o mesmo olhar carregado de eletricidade que tinha quando precisava tomar uma decisão importante.

Então ela abriu um sorriso e tirou a camisa que estava usando. A camisa era minha e ia praticamente até os seus joelhos. Por baixo ela não usava nada, e eu fiquei com os olhos perdidos no corpo dela.

Um arrepio quase sobrenatural correu o meu corpo... Não era o tipo de coisa que me acontecia todo dia.

Naquele momento eu soube, com a certeza dos idiotas e dos apaixonados, que eu estava completamente perdido.

E pelo sorriso, no fundo, talvez ela também estivesse.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 03/09/2021
Código do texto: T7334334
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