Deivid (o Salsicha) da Casa do Pai Marcos

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

O Wilson Bastos fez uma entrevista ao vivo com esse integrante da casa, o Deivid; no penúltimo dia de agosto numa (live) especial.

“É um, cara, brincalhão, divertido, mas, têm histórias sérias, não é só sorrisos”. — Wilson

O Deivid na tenra idade vivera uma fase muito difícil. Fora criado por uma das avós, em Manaus; à sua mãe havia falecido, por consequência dum câncer.

“A minha mãe era uma mulher bonita; cuidava muito bem de nós (os filhos), pagava colégios particulares… Crescemos com respeito, sabíamos-nos dar, com os mais velhos. — Há pessoas que vão com tudo para cima deles; nós já somos mais civilizados”. — Deivid.

Começou a se envolver, a usar drogas ainda um garoto, na escola. Inicialmente uma colega de aula que usava a erva maldita, à maconha, o oferecia e ele aceitava de bom grado, gostava. — Passou então, a viver naquele mar de ilusão, a surfar numa onda e outra, dessa substância.

Ao achar talvez, que, ganharia um bom dinheiro começou também a comercializar a tal erva, entre aqueles alunos. Não demorou muito nessa ilicitude infantil e fora expulso do educandário, das suas atividades de estudantes, por tempo indeterminado (numa justa razão).

Com catorze (14) anos teve o seu primeiro relacionamento sério e fora com a companheira para o interior do Estado do Acre. Por lá, para à sobrevivência do casal, o Deivid tornou-se um grande tartarugueiro (pescador de tartarugas), ganhava a vida com isso.

Por lá, nessa ocasião, as drogas eram coisas raras. As mais comuns, às lícitas predominavam, como o tabaco e a cachaça. Havia um contingente enorme de viciados nestas; o Deivid tornou-se também um dependente etílico em pouco tempo.

Em Rio Branco só bebia, bebia…

Por suas constantes brigas e arruaças, fora preso algumas vezes. — Separou-se da esposa.

Com os seus dezoito (18) a dezenove (19) anos retornou a Manaus, à sua querida parentela, tentar outra vida. Na terra natal as coisas se complicam mais ainda para o Deivid.

No seu retorno com muita cede ao pote, às drogas… Passou do “mel” da cana (cachaça) para o amargo do craque, muito rápido!

Inicialmente a morar num bairro distante da região central, logo enturmou com os irmãos dos vícios, a fumar maconha “desembolado” nas lajes vizinhas, com os novos conhecidos que fazia na capital manauara.

Nesse ínterim arrumou um novo amor que prometia…

A mulher tinha outro nível, mais civilizada, inteligente, bonita. O bancava em tudo dava-lhe do bom e do melhor. Também usuária, consumiam juntos as suas drogas preferidas. — O ruim disso é que o trancafiava em casa ao sair.

O Deivid precisava de liberdade, dum trabalho, devia ocupar a sua mente noutras atividades…

— Nesse desespero arrumou uma ocupação um tanto quanto duvidosa, numa boca de fumo; próximo de onde morava.

Por um tempo seguiu firme nesse labor, atento a tudo o que acontecia ao entorno do seu posto de trabalho… Desenvolvia com afinco as suas atividades de olheiro do tráfico.

À esposa prestes a dar à luz ao primeiro filho do casal internou-se numa maternidade em Tapajós. O Deivid acompanhou a parturiente no serviço do parto e viu o seu filho nascer.

Ela (no seu resguardo) ainda a precisar muito da sua presença, do seu apoio, à abstinência falou mais alto e o Deivid retornou à Manaus às pressas, sozinho, consumia drogas à vontade.

De volta da maternidade, do resguardo, a mulher não queria mais saber da companhia do Deivid e começou às brigas, o inferno da mulher…

Impedido por ela de adentrar na casa onde moravam, chorou muito naquele dia; esbravejou, derrubou o portão e entrou no imóvel.

Cansada das brigas e no entanto compafecida dele, retrocedeu; no acordo duma continuação afetiva, procuraram uma igreja para frequentarem (numa oportunidade a ele). Passaram a buscar uma vivência pacífica nesses termos.

Com o reatamento do relacionamento e da fé, tudo ia muito bem; a paz, a alegria, a harmonia no lar, à saúde da família voltaram. — Parecia um casal perfeito.

Eis que surgiu uma surpresa desagradável, duma morte por overdose de drogas dum parente próximo de um irmão da igreja que frequentavam!

O Deivid compadecido fora ao velório e caiu, ao ter sido convidado e aceitado a fumar a erva maldita com uma moça que apareceu do nada e estragou o seu momento de condolências aos parentes e amigos do falecido. — Roubou a sua comunhão espiritual e familiar.

Após esse deslize ainda lhe restaram duzentos e cinquenta reais em dinheiro vivo, em seu poder. Se achava o tal com esse montante e não pensou duas vezes, ganhou o centro da cidade em drogas e mais drogas com os camaradas de infortúnio.

Logo as tais cifras monetárias esvaíram-nas. Voltou para casa, mas, já não havia oportunidade dum novo reatamento. — Outra pessoa mais responsável, interessante assumira com seriedade os domínios do seu doce lar.

À sua área preferida no centro da capital se dava nas ruas e praças da cidade. Os seus “corres” (atividades) eram viver das coletas e vendas das frutas com pequenas avarias (impróprias para as vendas nas bancas, mas, ainda aproveitáveis). O fazia nas Feiras do Bagaço, da Compensa. — Vendida-as por valores mais a menos.

Fora catorze anos, vividos, em tais condições. Até ser resgatado por Marcos Bastos, diretor do “Projeto Pai Resgatando Vidas”.

O seu resgate começou numa abstinência da Ana (uma interna), no dia em que o Pai Marcos saiu com ela, num passeio de caminhonete no intuito de disfarçar o seu desejo de deixar o projeto e voltar ao estado de antes.

Com os seus trinta e três (33) anos sonha estar em breve, de volta à sociedade com um trabalho digno; comercializar joias novamente (se possível), pela experiência que acumulou nesse ramo, num período da sua vida; constituir uma nova família…

Nas clínicas que o Deivid passou o máximo que permaneceu, fora em torno duma semana e pouco. Na casa do Pai, já está há quase um mês acolhido e firme.

Torçamos para que, aos noventa dias na instituição (período convencionado) conclua com êxito o seu tratamento, e retorne à sociedade, à sua dignidade, por completo!

*Nemilson Vieira de Morais

Gestor Ambiental/Acadêmico Literário.

(02:09:21)