Envelhecer

Envelhecer!

Processo biológico natural, espontâneo. Envelhecer é sinal de sucesso do organismo. As genéticas, as sementes boas conseguem e são valorizadas, vangloriadas. Quem vive muito é glorificado.

É claro que viver muito tem preço. O envelhecimento significa perda de vigor físico e emocional. É quase regra o envelhecido ficar dependente, mais carente, ranzinza e emotivo. Por mais corajoso e racional sempre estará rondando a onipresente dúvida existencial do que virá depois desta vida.

À medida que se envelhece esta dúvida se transforma em medo, pavor e então o envelhecido se apega mais e mais ao que resta de sopro vital.

Na ficção é romântico e avassalador retratar a frieza e a coragem com que algumas figuras encaram o final do ciclo biológico, a morte, mas na realidade, fora da ficção, é desesperador e possivelmente tão angustiante quanto o instante do nascimento. Ah! É uma grande diferença. Ao nascer se é aconchegado por um colo qualquer, a mãe, a equipe obstetra, o bombeiro; na morte... A dolorosa dúvida... Mesmo relatos espiritualistas não são capazes de mitigar o desamparo existencial!

Envelhecer, em qualquer circunstância, em algum momento vai significar perda. A perda é o motivo intrínseco da vivência depressiva. O envelhecido em algum momento, em razão das perdas naturais e circunstanciais, estará depressivo. A sua vivência depressiva tem motivação concreta, real, é uma reação espontânea e natural às perdas reais e ao conflito existencial entre o desejo onipotente e a ausência do vigor físico para a sua realização.

A vivência depressiva do envelhecimento não é, necessariamente, maligna, patogênica, pois motivada por razões existenciais reais, não é fruto de alucinações e delírios.

Toda esta lenga lenga, só para discordar dos amigos que teimam em medicar os idosos como se eles fossem doentes psiquiátricos. Eles não são. São pessoas vencedoras, viveram muito e estão pesarosas, raivosas, rebelando. Não querem deixar este mundo, os filhos, os netos, os bisnetos, em troca de uma ilusão!

Joao dos Santos Leite
Enviado por Joao dos Santos Leite em 02/09/2021
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