Dois destinos
Esmeraldo era caminhoneiro . Viajava por esse Brasil afora levando as mais variadas mercadorias. Contava já uns cinqüenta anos e há mais de vinte, estava nessa vida. Era casado, pai de seis filhos e viajar era o seu ganha pão. Apesar de todo esse tempo não se acostumara com essa vida e chorava todas as vezes que se despedia da esposa e dos filhos para mais uma viagem.
Em frente à sua casa morava Felisberto que era sapateiro — mais por necessidade do que por destino. Ele não gostava desse ofício. Sua oficina era na sua própria casa e passava dias sem sair de casa , sentado em um banco, trabalhando. Morria de inveja de Esmeraldo. “Aquilo é que era vida”, pensava. Poder sair por aí conhecendo cidades e pessoas; um dia diferente do outro. Só de imaginar ficava com a cabeça mais leve.
Todas as vezes que Esmeraldo saía de casa , para mais uma viajem, Felisberto ficava olhando escondido e não entendia porque ele chorava. Devia ser de alegria. Jamais podia imaginar que Esmeraldo morria também , de inveja dele. Ficar em casa era tudo que ele queria: poder ver seus filhos indo e vindo da escola ; pedindo bença na hora de dormir; chamando o pai de noite para pedir água e contando o sonho ruim que tiveram de noite.
Assim a vida ia passando: um olhando para a vida do outro como fosse a própria vida. E de tando viverem assim, morreram no mesmo dia; todos dois de câncer.