A Angústia do Encontro!
Em meio à turbulência daqueles dias eu decidi que o melhor lugar para mim era o campo, a vida campestre. Falei com a minha família sobre isso, mas ninguém quis me acompanhar; preferiram permanecer na cidade para acompanhar todos os acontecimentos responsáveis pela tremenda confusão gerada pelas autoridades locais.
Na verdade, teoricamente a minha família nada tinha a ver com as questões discutidas em cada esquina, em cada ruela e em cada ponto comercial da cidade. De início, eu pensei que se tratasse apenas de alguma espécie de ciúmes dos líderes judeus contra um certo Rabi que não frequentava os círculos dos rabinos mais idosos.
De início era isso mesmo, porém aquele jovem rabino proveniente da Galileia que arrastava multidões após si com a realização de sinais espantosos conseguiu atrair também a fúria dos mestres de Israel, pois, como dizia o povo comum, "ele os ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas."
De outro lado, também os fariseus que constituíam um partido político forte naqueles dias, também passaram a perseguir o Galileu temendo que a sua influência sobre as multidões atraísse a ira dos romanos sobre a sua nação e lhes tirasse a hegemonia da governança em Israel. Tudo não passava, portanto, de um grande cisma religioso e político!
Como eu era estrangeiro em Jerusalém resolvi que o melhor lugar para mim seria manter distância daqueles acontecimentos e daquela efervescência política.
Pensei comigo mesmo que só retornaria à cidade quando soubesse que tudo já estivesse mais calmo e seguro. Para isso, encarreguei os meus dois filhos, Alexandre e Rufo ainda bastante jovens, que me mantivessem informado de tudo o que se passava na cidade.
Após alguns dias retornei a Jerusalém onde deveria celebrar a Páscoa junto à minha família. Era sexta-feira e eu estranhei o alvoroço persistente nas ruas da cidade. Apressei o passo para chegar logo em casa, sem perceber que estava indo em direção ao povo que se acotovelava formando uma pequena multidão que, aos gritos e ordens dos soldados romanos conduziam três malfeitores para o monte chamado Gólgota ou, monte da Caveira, que era um lugar de suplício e morte dos condenados pelo Império Romano.
Procurei me esquivar da multidão esgueirando-me junto às casas, mas não escapei aos olhares do oficial romano que me viu e me deteve com a ordem para que eu ajudasse um dos presos a carregar a própria cruz onde deveria ser crucificado.
Confesso que fiquei completamente transtornado com tudo aquilo. Eu não podia recuar e, muito menos recusar-me a cumprir a ordem, pois os soldados e oficiais romanos possuíam autoridade dada pelo próprio Imperador de requisitar de qualquer circunstante o suporte ou a ajuda necessária para cumprir a sua função.
Percebi o imenso sofrimento daquele condenado ao me aproximar dele, já extenuado sob o peso da própria cruz. Algo nele me chamou a atenção e vi no Seu olhar um brilho como nunca antes havia visto em alguém. O seu olhar inspirava amor e compaixão, mesmo em meio a tamanho sofrimento. Da sua fronte escorria-lhe o sangue por causa da coroa de espinhos que lhe fora cravada na testa e todo o seu corpo estava sangrando por causa dos açoites a que estivera submetido durante o suplício que antecipava a sua crucificação.
Fomos caminhando com dificuldade subindo a pequena encosta onde já se encontravam ossos, aqui e ali, de outros presos que haviam sido crucificados naquele mesmo local. Aos tropeços chegamos ao cume onde depositei, por ordem do oficial romano e ao lado daquele preso, a cruz que simbolizava vergonha e desprezo da sociedade contra o indivíduo que seria nela crucificado.
Aquilo me marcou profundamente! Os soldados pregaram as suas mãos e os seus pés justapostos ao madeiro utilizando-se de pregos que mediam cerca de 20 centímetros cada um e o levantaram, sem nenhuma compaixão, enquanto a multidão bradava insolências e zombaria ao seu redor. Ninguém parecia se preocupar com os outros dois malfeitores igualmente crucificados um à sua direita e outro à sua esquerda.
Mas eu estava lá, atento a tudo e percebi quando o homem que tinha a coroa de espinhos cravada na testa disse, com grande sofrimento: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que estão fazendo!" E, pouco depois, bradou em alta voz como que num último esforço: "Está consumado."
O céu toldou-se de nuvens escuras e ameaçadoras, o silêncio foi sepulcral, um aparente abalo sísmico estava para acontecer e a multidão começou a se dissipar com rapidez, cada qual de volta para sua casa e suas atividades.
Cheguei em casa impressionado e a minha família me recolheu. Fui me banhar e mudar as vestes sujas do sangue daquele condenado, mas os meus olhos estavam ainda contemplando a inscrição que o governador obrigara os soldados a pregar no alto da Cruz com os dizeres: "Jesus Nazareno, Rei dos Judeus."
Nunca mais fui a mesma pessoa. Eu frequentava a sinagoga dos cireneus em Jerusalém e lá, eu havia aprendido pelo ensino das Escrituras, que Deus haveria de enviar para Israel e para o mundo o Messias que sofreria as dores do suplício e da morte para carregar sobre si os pecados e as dores da alma humana tornando-se assim o sacrifício que aplacaria o juízo de Deus sobre a humanidade.
Eu havia participado disso tudo, carregando sobre mim mesmo, a cruz sobre a qual o Messias de Israel fora levantado. Por esta razão, o seu olhar de amor e compaixão por mim enquanto eu o ajudava a se levantar para, juntos, subirmos a encosta daquele local de horrores, mudou a minha vida.
O seu maravilhoso olhar transformou meu ser e me deu nova vida. Fui perdoado por causa do seu amor por mim e por esta razão sou e serei sempre grato por sua misericórdia, amor, perdão e esperança.
Assim foi o meu encontro pessoal com Jesus. Ele, no final da sua vida aqui na Terra e eu, iniciando a minha vida por toda a Eternidade por crer nele como o Salvador e Messias Prometido.
Que tal você conhecer também a história de Jesus para ter com Ele essa mesma experiência de transformação?
Deus te abençoe!
Pr. Oniel Prado
Inverno de 2021
29/08/2021
Brasília, DF