Meu tio seria hoje Bolsonarista

Al ler O Cavaleiro da Esperança, de Jorge Amado, vejo ali a confirmação do que contava meu tio sobre a Coluna Prestes, sob o comando de Luis Carlos Prestes, e o movimento Tenentista , comandado pelo então tenente Castelo Branco, que viria a ser o primeiro presidente do regime militar, em 1964. Entre Prestes e Castelo Branco, deixava patente a sua admiração por este último, até porque o Comunismo não era bem visto, à época. Para nós, crianças, era tão temido quanto o papa-figo, tamanha era a distorção histórica que nos passavam.

Entre os anos 1923 e 1927, no sertão da Bahia, no município de Glória, à margem direita do rio São Francisco, onde morava meu tio, eles ali passaram, tendo atravessado o rio em pequenas canoas, a partir da antiga Jatobá, hoje Petrolândia, em Pernambuco. Durante a nossa infância, viamos a empolgação do tio, quando falava nos militares, provavelmente por ter conhecido Castelo Branco, ali naquele longínquo recanto da Bahia. Ainda sem televisão, sem acesso a revistas e jornais, meu tio não haveria de conhecer a imagem do futuro presidente. Meu irmão mais velho, ao vê-lo na televisão, já no pós 1964, quis tirar a prova: "então, meu tio, o senhor que conheceu o tenente Castelo Branco, diga como era ele. E, prontamente, a resposta: "baixinho, troncudo, do pescoço enterrado."

Então, meu irmão, foi logo dizendo: "realmente o homem conheceu Castelo Branco quando passou por aqui naquela época." Assim, a confiança naquilo que contava aumentou ainda mais.

E, durante nossa infância, deixava transparecer que gostaria de ver um de nós no Exército ou na Polícia. Ninguém aderiu. Mas, um deles, por ter servido ao exército em Paulo Afonso, fizemos questão de levá-lo às cerimônias do dia do soldado, num 25 de agosto. E o homem foi aquela satisfação em ver o sobrinho fardado de verde, a marca do Exército.

Certamente não faltaria ao movimento bolsonarista que se avizinha, no 7 de setembro.