Aborto espontâneo.
Algumas pessoas conseguem fantasiar muito bem suas vidas, criam personagens, enfeitam realidades.
Ela era puro titânio, enterrou o maior sonho de sua vida – este dia jamais seria esquecido.
E quando, de surpresa acontece o último amor – ela sabia que era o último – ela aborta. Foi aborto espontâneo, coisas da natureza, e contra a natureza ela não reagia.
Certas coisas simplesmente aconteciam...
À sua revelia, no avesso do que realmente vivia.
Abortos acontecem, porque sim.
Porque não era para ser, porque chegou na hora errada, porque era tarde demais, ou cedo demais, nada mais importava.
Ela não tinha mais forças para a rebelião, para o embate, para a desforra.
Tudo estava feito, tudo pronto, nada acrescentado.
Amores devem regar, amor que vem para secar resulta em aborto.
Aborto espontâneo.
Coisas da natureza, coisas da vida que exigia muito mais e dela que sentia o pulsar elementar em si, plena de sementes, pronta para o plantio.
Mesmo o feto expulso ainda vai adubar a terra e flores irão ocupar aquele espaço que foi sem nunca ter sido.