JANELAS DA ALMA
Prof. Antônio de Oliveira
Estou sendo repetitivo. Mas voltei a olhar. Olhar no sentido de focar. Olhe aqui! Veja bem! Esta é a nossa canção, canta Roberto Carlos. Para nunca mais esquecer. Nesse caso, não se trata apenas de olhar, focar objetos com os olhos da face, mas de prestar atenção, entender, apreender. Focar ideias e sentimentos. Efetivamente, os olhos são mesmo janelas da alma. Mas são apenas um veículo. Tanto que os cegos não veem e nos dão a impressão de estar olhando para nós. Ou como o olhar de uma criancinha. Ou olhares de namorados que se encontram.
Ouso dizê-lo. Na antiga fazenda de meus pais, ainda criança, ficava olhando nos olhos de alguma rês mansa. Essa parecia comunicar-se comigo pelo olhar. Fixando um olhar profundo. Um olhar interior. Quase lânguido, em decorrência dos maus tratos dos humanos. Pelo olhar contemplo o brilho do Irmão Sol, da Irmã Lua.
"Prova. Olha. Toca. Cheira. Escuta. Cada sentido é um dom divino." Admitiu Manuel Bandeira. Juntos, dons que são o revérbero da alma. Fala-se num sentido interno que coordena o funcionamento simultâneo dos sentidos externos, em admiráveis sinestesias. É justamente através desses sentidos, mesmo que nos falte algum deles, que projetamos nossa unidade, nossa personalidade, nosso jeito de ser, nossa identidade.
Chorando, sorrindo, xingando, elogiando, incentivando, falando, cantando, lendo, escutando uma música, tamborilando... sentindo o perfume de uma rosa ou o calor humano num aperto de mãos. Janelas para o mundo: “Windows”. Janela do trem de ferro, janela do avião, janela para ver a banda passar. Janelas da alma. Janelas freudianas, kafkianas, marxistas. De acordo com o milenar BhagavadGita, livro religioso hindu, através de uma janela nós podemos ver o mundo. Janelas da alma.