Marcelo, Resgatado das Grades Pelo Pai Marcos
Por Nemilson Vieira de Morais (*)
“A primeira droga lhe dão, às demais você vai atrás. Ela escraviza”. — Marcelo.
“A história do Marcelo é uma das mais fortes aqui da casa. Ele é o braço direito da equipe da sopa; está sempre junto a mim”. — Wilson
“Não aparece muito, mas é o destaque da casa”. — Marcos Bastos.
Realmente no dia a dia da instituição, o Marcelo fica mais na dele, no seu canto, por isso não é visto com tanta frequência nas lives do Pai. “Não gosto muito das câmeras, para tudo têm a sua hora”… Diz ele.
Com dois meses decorridos do seu tratamento no “Instituto Pai Resgatando Vidas”, em lives especiais com o Wilson, com o diretor Marcos Bastos e com o CM7 Brasil (portal de notícias), o Marcelo apareceu e nos contou um pouco de si, da sua longa vivência no mundo das drogas…
"A minha história é um pouco complicada… Sempre gostei de trabalhar, já fui proprietário de açougues por Manaus; um açougueiro considerado como 'Faca de Ouro' (aquele que desossa, sabe cortar bem uma carne), não era de prata não. — Gastei tudo nas drogas.
"Tenho um casal de filhos: uma moça com quase quinze (15) anos e um garoto de dez (10)".
Um dos seus maiores constrangimentos na vida se dera ao subtrair um celular da filha (uma das ferramentas de estudo daquela jovem estudante). — Vendera em seguida para consumir suas drogas preferidas pelas ruas da cidade. Nesse dia não conseguiu se drogar, como desejava, ao pensar na loucura do seu ato e vozeou ao Deus do impossível:
“Papai do céu eu não farei mais isso, o que fiz já basta! Cheguei no meu limite. Tenho que dar orgulho aos meus filhos"…
Um irmão seu do ramo de açougues, que já apoiava o projeto do Pai Marcos, no fornecimento de ossos com tutanos paras as sopas aos moradores de rua e comunidades carentes (ainda o faz) tentou ajudá-lo como pôde… Deu-lhe um trabalho na sua Casa de Carnes, “mas, chegou um tempo que não me queria mais no serviço. — Eu comprava a droga, fiado e quem a pagava era ele. Isso doía no meu coração: dele trabalhar para pagar as minhas dívidas".
O dito irmão ainda autorizou ao proprietário dum restaurante próximo do seu negócio a fornecer-lhe uma refeição, diariamente.
O Marcelo ao sair do ambiente alimentar, com aquele Pão sagrado, em vez de agradecer a bondade de Deus e do irmão, matar a sua fome, o trocava por drogas na primeira oportunidade.
Ao saber disso o irmão orientou o dono do restaurante a não mais liberar o alimento ao Marcelo em marmitas. — Se quisesse comer o fizesse no próprio local do fornecimento alimentar.
“Um abismo chama o outro”… Dos trinta e cinco (35) anos do Marcelo, 20 deles foram desperdiçados no uso constante e alternado de vários categorias de drogas. Começou pelo 'chá', a maconha (numa forma de relaxamento), chegou ao pó e por fim à maldita pedra (o craque). Até se prender duma vez no fundo dessa horrível fossa, sem poder sair de lá sozinho…
Com a misericórdia que o Salvador dispensa-lhe, estar a sair dessa dependência química com sucesso. Se ver limpo disso novamente.
Após tanto tempo a penar nos seus desvarios uma inusitada ideia (como luz) raiou na mente do Marcelo e se fez num clarão ao mundo…
Pediu a mãe que o prendesse, literalmente; num dos cômodos da sua residência, com uma forte grade de ferro que havia por lá com uma boa tranca. Que guardasse num lugar seguro a chave da mesma.
O que uma mãe não faz por um filho?! Ela estranhou aquela atitude, mas, como era para o bem de todos, melhor vê-lo preso do que acorrentado, ou, num estado bem pior longe dela…
Permaneceu um mês guardado entre quatro paredes e dentre tantas abstinências uma marcou bastante. Quase morreu em decorrência dela.
Conseguiu vazar o teto da prisão materna; o forro de PVC, o telhado, e despencar das alturas...
Agonizou um bom tempo pelo quintal da casa nesse desejo extremo, insano de queimar a pedra, à lata, os dedos, à alma... Achou ter quebrado o pescoço na queda, mas, fora somente uma suspeita sua.
Ligaram para a mãe e para a polícia; esta veio sem demora e viram o Marcelo grogue do baque que levara.
Não era um caso dum socorro imediato e nem prisão (por não haver ilícito no acontecido) e não puderam fazer grandes coisas.
A mãe chegou depois, com carinho, amor o reconduziu para trás das grades, conforme os combinados anteriormente. Desse lugar só sairia com a intervenção do Pai Marcos.
Para algumas clínicas de recuperação de drogados, das muitas existentes, o Marcelo não aceitava ir. Não queria viver que nem um zumbi, entupido de remédios, psicóticos.
Só topava ser internado para o tratamento da sua dependência química, num lugar onde as portas vivessem escancaradas, abertas o tempo todo e, houvesse muito amor para dar…
Parece que ele já sabia o 'caminho das pedras'. Aguardava ansioso por respostas, pela presença do diretor do Instituto Pai Resgatando Vidas, o Marcos Bastos. Já havia produzido um vídeo de si, onde mostrou a sua situação de dependência química e vivência naquela triste prisão domiciliar, e pedia por socorro imediato.
Felizmente numa providência divina chegou ao conhecimento do Pai esse caso e o seu grande livramento esperado pelos seus familiares e amigos.
Após uma análise da questão, com a diretoria do projeto e o surgimento de vaga, em 9 de junho de 2021, se deu esse emocionante resgate.
O Marcelo é muito querido e prestativo nas atividades diárias do projeto…
Acorda cedo e vai à luta, com alguns colegas se põem a recolher às doações das frutas e verduras para as sopas semanais, na Feira da Manaus Moderna.
Sobre o Pai Marcos ele interroga: "Quem é o 'cara' que traz um morador de rua para dentro da sua casa, todo sujo, drogado, um lixo humano?"
“Me sinto um vitorioso. Não me vem mais a vontade de usar drogas”. — Marcelo.
Quanto aquele que passou pelo projeto e voltou ao mundo tenebroso das drogas e o que ainda vive na sua ingratidão para com quem o salvou…
“Esse, vai apanhar muito da vida. Porquê Deus é Pai não é padrasto”.— Pondera o Marcelo.
“Já pensei em fugir. A vontade vem, mas, passa”. — Diz.
O Marcelo promete: segue firme sem nenhuma recaída até o momento, ganhou a confiança do Pai, de todos. Elogios não lhe falta por parte da direção, dos colegas de tratamento e dos internautas. É um exemplo a ser seguido, um orgulho da casa.
Um dos apoiadores do projeto já lhe abençoou com um celular novo e aguarda a visita da filha, para o pedido de perdão e a restituição ao que levara dela.
Marcelo conta que algo muito forte não lhe sai da lembrança: as lágrimas do filho no dia do seu resgate ao tratamento e às palavras da filha numa ligação, ao dizer estar orgulhosa dele. Respondera a ela não decepciona-la.
A SUA PREOCUPAÇÃO:
Ao lembrar dos usuários de drogas, da comunidade desassistida das ruas de Manaus, o Marcelo demonstrou a sua preocupação quanto às contribuições para a compra da fazenda (pelo projeto Pai Resgatando Vidas), estruturada para o acolhimento dessa população.
“Eu fico a pensar como nós vamos fazer para adquirir esse dinheiro dessa compra. Às vezes penso em pegar umas caixas de bom-bons e vender. — Botar esse projeto para a frente, isso mesmo. Se cada um ajudar com o pouco que tiver, vai dar certo a ressocialização desse centro”. — Marcelo
*Nemilson Vieira de Morais
Gestor Ambiental/Acadêmico Literário (25:08:21)
Texto com base nas lives: do Marcos e Wilson Bastos, CM7 Brasil (portal de notícias de Manaus), agosto de 2021.