EU, JULGADOR
“O mundo se tornou um grande tribunal, onde todos julgam todos sem o contraditório e a ampla defesa”
No tempo de tanta intolerância costuma ser até um ato de coragem tocar em temas sensíveis. Na semana passada fui chamado de blasfemador pela publicação do artigo Jesus era de Direita ou de Esquerda? Disponível em: https://regiaotocantina.com.br/2021/08/19/jesus-cristo-era-de-direita-ou-de-esquerda/ .
O mais grave é que a acusadora/julgadora, que fez tal protesto, sequer tinha lido o artigo/provocação. Limitou-se ao título. Para ela, segundo me disse, o título bastava para perceber a blasfêmia contra o filho de Deus, o mesmo que ensina que "Não julguem, para que vocês não sejam julgados.
Perceba, leitor, que o juízo de valor fora engravidado só com a leitura do título. E o que isso significa? Significa que vivemos, já há algum tempo, sob a égide da superficialidade, da análise rasa e instintiva dos fatos e das coisas. Comportamento extremamente danoso que tem como consequência a formação de juízos aleijados, débeis, e carentes de fundamentação.
Outros efeitos colaterais desses juízos, decorrentes do que chamo leitura “fast food”, são mais intolerância, divisões, familiares e corporativas, o aumento da violência; e até de assassinatos. Se serve de consolo, não é só aqui no Brasil. Hoje esse fenômeno, é uma doença global.
Some-se a leitura rasa com o predomínio das notícias falsas, e temos, sem exagero, um “coquetel mortal” para a humanidade, principalmente quando aparece temperado com a religiosidade, que também ao ser praticada no formato raso, gera filhos malditos.
Exemplo global dessa letalidade é o Talibã, o movimento fundamentalista e nacionalista islâmico que acaba de voltar ao poder no Paquistão. Em nome de uma interpretação equivocada do livro sagrado do islam, o Corão, os barbudos do Talibã reiniciaram, sob os olhos do mundo, seu regime de terror, sobretudo contra as mulheres. A questão, é que o fundamentalismo não é uma exclusividade do Islam, e se faz presente também nas outras grandes religiões do mundo. E isso, não é bom.
Certa vez ouvi num filme uma frase, no contexto de uma discussão sobre intolerância religiosa, que nunca mais esqueci, talvez pelo peso da reflexão gerado por ela. No filme, membros de diversas religiões, vítimas de um desastre aéreo, foram obrigados a se unirem para se manter vivos.
Em determinado momento da conversa um dos interlocutores levanta voz e diz: “ a religião divide as pessoas. A espiritualidade as unem”
Nunca ouvi uma frase tão carregada de verdade feita essa, daquele antigo filme do qual não recordo o nome. Uma verdade, diante dos nossos olhos, que nos conduz à conclusão de que o mundo, no estágio atual, precisa mais de espiritualidade do que de religiões.