Quando As Ideias Não Correspondem Aos Fatos
Eric do Vale
No ato da promulgação da Constituição Federal, Ulysses Guimarães,na condição de articulador da Carta Magna, fez um discurso reconhecendo que tal documento era falho, mesmo sendo elaborado na vigência do regime democrático.
Tão atual quanto emblemático, as palavras proferidas pelo parlamentar permitiram com que eu me lembrasse daqueles que prezam pela "reforma política " reerguendo o Muro de Berlin, advertindo os seus compatriotas da proliferação do comunismo e, acima de tudo, defendendo a intervenção militar no país.
Provavelmente, alguém que comunga desse tipo de pensamento, ao ouvir o discurso do Ulysses Guimarães, iria taxá-lo de petista. Detalhe: o Partido dos Trabalhadores, sob a liderança de Lula, não aprovou a redação final da Constituição, embora conste a assinatura dos seus representantes parlamentares.
Como essas pessoas agiriam, no momento em que o "Senhor Diretas" declaraou repúdio ao regime totalitário em que ficou consolidada a sua frase: "Ódio a ditadura. Ódio e nojo!"?
Por falar nisso: certa vez, alguém perguntou se o Brasil já teve intervenção militar. Eu respondi que sim e expliquei como tudo ocorreu de forma bem detalhada. Em seguida, fui hostilizado por essa pessoa, porque eu usei a palavra "golpe" . E como se isso não bastasse, terminei sendo taxado de esquerdista, socialista e, acima de tudo, de comunista.
Fico só imaginando a reação desse pessoal, quando, próximo de finalizar o seu pronunciamento, Ulysses Guimarães disse: "A sociedade foi Rubens Paiva e não os facínoras que o mataram". Essas pessoas, pelo menos, sabem quem foi Rubens Paiva? Provavelmente, diriam que ele foi um comunista que "morreu na contra mão atrapalhando o movimento militar".