SALA VAZIA
Eu não sei bem se estava saindo ou se estava chegando, quando percebi, já estava dentro daquela sala vazia, estava tão perto da porta, que me coloquei em dúvida sobre minha situação; o que estava realmente fazendo ali, sobre a minha chegada ou saída, não havia malas, mochilas, nada que me desse uma ideia de algum movimento voluntário antes daquele congelamento pessoal.
De onde eu vinha?
Ou porque estava saindo?
Se é que eu estava lá!
Derrepente veio aquele tipo de pensamento solitário.
" Dúvidas "estes pensamentos a ludibriar nossa certezas.
Um embrionário pensamento, eu pensei em pintar o lugar, dar uma cor mais viva naquelas paredes, eu também preencheria aquele ambiente com uma mobília da minha escolha, gostei muito dali, e então comecei a imaginar, um grande sofá no canto esquerdo do cômodo, bem afastado da janela, pensei numa mesinha ao centro, um móvel de televisão, uma pequena estante de livros, eu vi tudo assim rapidamente, consegui colocar do meu jeito em um breve pensamento.
Ah! Teria de ter também um grande quadro na parede, com uma paisagem colorida, teria uma cabana de madeira nele,com um telhado de sapê, teria um certo ar bucólico,mas não tão triste, poético talvez. nele haveria também um extenso gramado em volta e um pequeno lago com cisnes. Assim seria o quadro pendurado na parede.
Ainda sobre a decoração: colocaria um abajur acima de uma escrivaninha, junto a uma confortável poltrona.
Fiquei feliz com aquelas ideias e então
me vi sendo um grande decorador. . .
Pensei em listar aquelas coisas, procurei nos bolsos da camisa uma caneta e um papel para anotar tudo, não queria esquecer nenhum detalhe, encontrei a caneta, e um papel dobrado no bolso da calça.
Quando peguei o papel para começar a anotar, tive uma grande surpresa ao perceber que era um papel de retrato, parecia ter uma data ali , pela leitura da mesma, parecia ser datada há uns dois anos atrás, contando daquele momento , um retrocesso, percebi, comparando com o marcador de tempo do relógio preso ao meu braço, o mesmo que segurava o papel, e prestando bastante atenção, me assustei ao perceber que do outro lado do papel, havia uma fotografia daquela sala, só que não estava vazia como agora, estava idêntica a que eu imaginei, sofá,mesa ao centro, tudo.
E o que mais me impressionou foi um espelho na parede, este não foi pensado por mim, mas estava lá, e o mais assombroso ainda, fui ver que refletia uma pessoa fotografando aquele lugar, e ainda por cima pude notar que a pessoa atrás daquela câmera era eu.
Então percebi que alí estava um passado confrontando com o meu presente, e de alguma maneira senti que não pertencia mais aquele lugar, e naquela mesma hora, compreendi que eu não estava chegando, e sim indo embora, então de volta a lucidez, girei a massaneta, e sai por aquela porta em busca de um futuro qualquer que eu possa construir realmente.
( Do livro: Textos Avulsos)
( Autor: George Loez)